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Séries e TV

Entrevista

The Big Cigar mostra como história dos Panteras Negras se misturou com Hollywood

Andre Holland e Tiffany Boone falam ao Omelete sobre a importância da série nos dias de hoje

16.05.2024, às 11H16.

Hoje em dia, quando se fala de Pantera Negra, muita gente pode ter em mente o personagem do MCU imortalizado por Chadwick Boseman (1976-2020). Mas no mesmo ano de 1966 em que Stan Lee e Jack Kirby se encontravam na redação da Marvel, em Nova York, para falar de T'Challa, o primeiro super-herói negro, que estreou na revista Fantastic Four #52, do outro lado do Estados Unidos, em Oakland, na Califórnia, surgia o Partido dos Panteras Negras.

Sem relação ou influência direta do que acontecia nos quadrinhos, a organização urbana criada por Bobby Seale e Huey P. Newton em outubro daquele ano nasceu da necessidade de ter um grupo armado monitorando o comportamento dos policiais locais, que abusavam de sua força e poder contra pessoas negras. Com o tempo, o Partido foi incluindo em seus afazeres programas sociais, como distribuição de café da manhã grátis para crianças e clínicas de saúde comunitárias, que levaram à expansão para quase 70 cidades estadunidenses, incluindo Nova York, Chicago, Seattle, Los Angeles e Filadélfia, além de filiais no Reino Unido e Argélia.

Tamanha "afronta" ao poder levou o diretor do FBI J. Edgar Hoover a chamar o partido de "A maior ameaça à segurança interna dos Estados Unidos", montar ações para minar a saúde financeira e psicológica do grupo e, claro, colocar seus membros na lista de mais procurados. Em 1974, Huey foi acusado de matar uma prostituta de 17 anos. Sabendo que era uma armação da qual não ia conseguir escapar, ele fugiu para Cuba, na época liderada por Fidel Castro, onde ficou por três anos.

Esta fuga para Cuba é o pano de fundo da nova série do Apple TV+, The Big Cigar, estrelada por Andre Holland no papel de Huey Percy Newton (1942-1989). Os dois primeiros episódios chegam ao streaming nesta sexta, 17 de maio, e mostram que o drama político e a perseguição também se misturam com a história de Hollywood, pois quem ajudou Huey a sair do país foi o produtor de cinema Bert Schneider, conhecido principalmente por Sem Destino (Easy Rider, 1969), de Dennis Hopper.

Em entrevista ao Omelete, Holland afirmou que o objetivo principal dos produtores era criar algo educativo sobre a história dos Panteras Negras e também divertido. Este equilíbrio não é fácil de conseguir, mas neste caso, o ator salienta que a história do partido e tudo o que aconteceu naquela época é tão ou mais interessante do que qualquer coisa que alguém poderia inventar. "Eu me conectei com a história, ao que realmente aconteceu, ao que era o Partido e quem estava nele, e como Huey se tornou esse revolucionário. Essas coisas eram mais interessantes para mim do que uma cena de perseguição e todas essas coisas que agora são divertidas de assistir, e acho que isso atrairá um certo grupo de pessoas interessadas em assistir ao programa", confessou o ator. Mas, para ele, isso é só o começo. "Espero que quem assista à série saia querendo saber mais sobre o Partido dos Panteras Negras e vá pesquisar e investigar por conta própria e descubra muitas coisas incríveis que eu descobri fazendo minha própria pesquisa."

Para Holland, um holofote importante deve ser colocado sobre as mulheres do Partido, como Elaine Brown, Kathleen Cleaver e Angela Davis, entre tantas outras. Na série, por exemplo, temos muito tempo ao lado de Gwen Fontaine, interpretada por Tiffany Boone. A noiva e futura esposa de Huey sempre foi bastante discreta. "Gwen é uma pessoa muito reservada. Se você procurar, não conseguirá encontrar muita coisa nos dias de hoje, e acho que esse é o propósito [...] Tenho muito respeito por ela e tenho muito respeito por Huey, pelo relacionamento deles e pelos Panthers. Havia muita pressão para usar todos os fatos que eu pudesse encontrar e ainda ser capaz de preencher as lacunas com o melhor da minha imaginação e respeitá-la", disse a atriz.

Andre teve muito mais material para montar seu personagem. Nem todos eles eram bons. "Acho que é correto levar em conta todas as partes. Você sabe, havia partes da vida de Huey que eram complicadas, violentas e que eram tratadas com muita raiva. Havia problemas de abuso de substâncias. E, além disso, ele foi uma pessoa que fundou esse partido político incrivelmente importante, que fez um trabalho maravilhoso", refletiu o ator.

Para ajudar o elenco, três diretores diferentes comandaram os episódios: Don Cheadle, Damon Thomas e Tiffany Johnson. E a atriz falou com um sorriso no rosto a leveza que os três traziam para o set. "Don, eu obviamente sou fã dele desde sempre, mas não conhecia este Don que está sempre brincando. Ele cria um ambiente muito divertido e nos demos muito bem, e é sempre bom trabalhar com atores que falam a língua dos atores. Damon é sempre muito animado, um cara muito divertido e foi ótimo trabalhar com ele. E Tiffany Johnson é, na verdade, uma das minhas melhores amigas. Eu a conheço há anos. Foi especialmente divertido filmar com ela em Columbia, porque comemos muito, tomamos ótimos drinques e nos divertimos muito no set", relembrou.

Toda essa diversão não quer dizer que o assunto não seja sério. E atual! Para Andre, a ideia de ter um Partido como os Panteras Negras e um Huey Newton hoje seria muito útil. "Huey nunca teve medo de falar a verdade como ele a via. Acho que a política dele sempre esteve enraizada em uma luta global pela libertação, em um esforço global de construção de uma coalizão multirracial externa, e acho que em um momento como esse, certamente poderíamos usar a voz dele, mesmo pensando apenas no programa de 10 pontos que o partido tinha: acesso à educação, acesso a abrigo, comida para os jovens antes de irem para a escola... ele falava muito sobre tirar as pessoas da prisão. Portanto, todas as coisas com as quais ainda estamos lutando hoje em dia", destacou o ator.

The Big Cigar tem seis episódios. Como disse Andre: "A série não é um filme biográfico e não é uma análise real do Partido dos Panteras Negras. É mais uma introdução, eu acho, e espero que inspire as pessoas a sair e aprender mais."