Ao contrário do que o trocadilho do título brasileiro tenta passar, Doentes de Amor (The Big Sick) não é uma comédia romântica sobre médicos ou enfermos. Escrito por Emily V. Gordon e Kumail Nanjiani, o filme é baseado na história do casal e conta como uma doença inesperada ajudou a romper as barreiras culturais do seu relacionamento.
O próprio Nanjiani, conhecido por seu trabalho na série Silicon Valley, estrela o longa dirigido por Michael Showalter (Mais Um Verão Americano) e produzido por Judd Apatow. De cara há o choque pelo nome do ator/roteirista nos créditos de abertura ser o mesmo nome chamado na primeira cena ao palco para uma apresentação de stand up. Essa é uma comédia baseada em fatos encenada por seu protagonista absoluto, o que dá às piadas e situações sensibilidade e realismo cruel. Talvez seja por isso que muitas vezes ele acabe se desculpando logo depois de uma brincadeira mais pesada, para deixar sempre claras as suas intenções.
Nascido no Pasquistão, Nanjiani também aborda no filme a sua relação com a família, que se mudou para os EUA quando ele tinha 18 anos. É uma parte importante da sua personalidade, mas que não se encaixa diretamente com suas escolhas profissionais - a comédia -, ou amorosas, com sua mãe constantemente forjando encontros com jovens paquistanesas para arranjar um casamento. Ele não quer negar suas raízes, mas também não quer viver como se ainda estivesse no Oriente Médio. Nessa indecisão de Nanjiani, Doentes de Amor se torna um retrato de uma geração dos EUA, em que jovens de diferentes culturas lutam para aliar a sua origem ao estilo de vida americano.
Mesmo tendo sido escrito pelo casal que vivenciou esse romance, o relacionamento construído entre o Nanjiani e Emily Gardner (a versão ficcional de Gordon interpretada por Zoe Kazan) não é idealizado, do tipo que esconde falhas e exalta sentimentos. É uma abordagem sincera de uma história que começa como tantas outras, com alguns gracejos em um bar, pensado como coisa de uma noite só, mas que se transforma em um relacionamento sério, apesar da resistência racional das duas partes. É um amor possível, com todas as risadas, inseguranças, desconfortos, conversas desencontradas e brigas estridentes.
A melhor ligação do filme, contudo, é entre Nanjiani e os pais de Emily. Quando ela adoece, ele é forçado a encarar a família dela, confrontando os próprios sentimentos no processo. Holly Hunter e Ray Romano entregam atuações repletas de camadas, capazes de construir personalidades e contar toda a história de seus personagens enquanto se preocupam com a filha e encaram o novo genro. As risadas e as lágrimas que acompanham essa história, surgem naturalmente, pelas situações, conflitos sociais e pelo próprio senso de humor de Nanjiani, sem que o roteiro precise se esforçar para fazer rir ou emocionar.
Doentes de Amor é daqueles filmes simples e sinceros. Alia leveza e consistência, desconstruindo estereótipos culturais, ao mesmo tempo em que aquece corações. Para sair do cinema com um sorriso no rosto.