Cena de Moonlight: Sob a Luz do Luar (Reprodução)

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Lista

Um filme ou série para cada letra da sigla LGBTQIAPN+

Equipe do Omelete lista suas obras favoritas para celebrar o Dia do Orgulho

A comunidade LGBTQIAPN+ abarca uma diversidade gigantesca - e o mundo da cultura pop, ainda bem, está ficando cada vez melhor em refletir essa diversidade nas telas. Por isso, com a aproximação do Dia do Orgulho LGBTQIAPN+ (comemorado no próximo 28 de junho, no aniversário da revolta de Stonewall, que deu o pontapé inicial no ativismo como o conhecemos hoje), o Omelete resolveu fazer uma lista diferente.

Abaixo, você vai encontrar uma indicação de filme ou série de TV que representa cada uma das letras da sigla LGBTQIAPN+. É a nossa melhor tentativa de abarcar a vivacidade gigantesca dessa comunidade, de celebrar suas vivências - e, é claro, de indicar alguns títulos que valem a pena assistir. Vem com a gente, e feliz dia do orgulho!

L - Lésbicas

Carol

Onde ver: Disponível para streaming na MUBI, Looke e Claro TV+.

A sensibilidade com a qual Todd Haynes aborda a história de amor entre duas mulheres é algo admirável, ainda mais se tratando de um amor (inicialmente) impossível como é o caso de Carol. Baseado no livro de Patricia Highsmith, é através das atuações brilhantes de Cate Blanchett e Rooney Mara que vemos como aquela paixão começa a surgir após uma simples troca de olhares; as nuances com o qual o amor nasce e a dor ao se separar da pessoa que ama tornam a trama ainda mais envolvente, e um marco para os romances lésbicos. O filme conquistou inúmeras premiações, com direito a seis indicações ao Oscar - e, diga-se de passagem, merecia ter levado tanto nas categorias de atuação como figurino -, e garantiu que essa história de amor entrasse para o hall de melhores produções LGBTQIAPN+. (Juliana Melguiso)

G - Gays

Moonlight: Sob a Luz do Luar

Onde ver: Disponível para streaming no Prime Video.

O primeiro vencedor do Oscar de melhor filme com temática LGBTQIAPN+, Moonlight: Sob a Luz do Luar revelou o diretor e roteirista Barry Jenkins como uma sensibilidade extraordinária. Olhando delicadamente para o cruzamento entre as identidades negras e gays dentro do contexto da Miami (EUA) dos marginalizados, Jenkins cria um filme de sensações vívidas e subtextos emocionais que nunca se esgotam - como alguém que revê Moonlight quase todos os anos, digo tranquilamente que sempre há um novo filme para se descobrir dentro dele. Melhor ainda: ao eternizar a história de um jovem gay que se reprime dentro de uma masculinidade sufocante para só encontrar mais tarde uma forma de expressar seu afeto, a produção encontra ressonância genuína sem apelar para o final trágico que ainda assombra tantos personagens homossexuais em Hollywood. (Caio Coletti)

B - Bissexuais

Canções de Amor

Onde ver: Disponível para streaming gratuito no Plex (com legendas em inglês).

Difícil encontrar uma história bissexual no cinema ou na TV que não envolva a traição (até ótimos filmes, como Minhas Mães e Meu Pai, Passagens e Anatomia de uma Queda, caem nessa armadinha). E daí nos lembramos de Canções de Amor, o sensível musical francês em que Louis Garrel interpreta um homem em luto pela morte da namorada Julie (Ludivine Sagnier), que por sua vez levou à dissolução do trisal que os dois formavam com Alice (Clotilde Hesmé). É quando ele conhece o idealista Erwann (Grégoire Leprince-Ringuet), que lhe faz acreditar de novo, ainda que cautelosamente, no amor. É um romance moderno e complicado que mistura a melancolia e a mística parisienses com uma bela trilha sonora - e, olha só, no qual ninguém trai ninguém! (Caio Coletti)

T - Transgêneros, transsexuais e travestis

Tangerina

Onde ver: Disponível para streaming no Filmicca.

Antes de levar a Palma de Ouro por Anora, Sean Baker virou sua câmera (de iPhone!) para um grupo de prostitutas lidando com desventuras amorosas e indignidades do trabalho, tudo enquanto encontram compreensão e afeto umas nas outras, no espetacular Tangerina. Caótico, divertido, energizante e valoroso em seu retrato compassivo de personagens que vivem à beirada do mainstream - como todos os filmes de Baker -, Tangerina é também o longa mais desarmado do cineasta, largamente porque ele deixa as protagonistas Kitana Kiki Rodriguez e Mya Taylor tomar as rédeas da própria representação e assegurar que aquele final seja o soco no estômago e o afago no coração que precisava ser. Simplesmente inesquecível. (Caio Coletti)

Q - Queer

We Are Who We Are

Onde ver: Disponível somente em mídia física.

Não vou mentir: foi difícil escolher uma obra para representar o Q da sigla LGBTQIAPN+. O termo queer, afinal, não só é a apropriação de uma palavra que já foi considerada ofensiva como também tem a definição mais maleável da sigla, vista por alguns como um rótulo guarda-chuva e por outros como uma expressão de quebra de paradigmas dentro da heteronormatividade. Por sorte, We Are Who We Are existe, é tudo isso ao mesmo tempo, e muito mais. Nas mãos de Luca Guadagnino, a minissérie da HBO (que foi tirada do catálogo da Max, infelizmente) abraça o questionamento identitário da geração Z - e da juventude como instituição, na verdade - com entusiasmo exemplar. Gay, bi, hétero, trans, não-binário, todos os rótulos estão aqui para serem usados na autodescoberta e eventualmente superados pela força da conexão que sentimos uns com os outros. Lindo demais. (Caio Coletti)

I - Interssexo

Faking It

Onde ver: Disponível para streaming no Paramount+.

Uma das primeiras e mais importantes funções da representação midiática de um grupo marginalizado é simplesmente revelar a existência desse grupo para aqueles que não fazem parte dele. Das letras da sigla LGBTQIAPN+, talvez o I de interssexo esteja em posição mais precarizada quando se trata de visibilidade, o que só amplia a importância de Faking It, comédia originalmente exibida pela MTV estadunidense em três temporadas, entre 2014 e 2016. Uma década atrás, a descontraída produção estava trazendo para as telas de forma pioneira uma personagem interssexo, Lauren (Bailey de Young) - e, ainda melhor, construindo para ela um arco íntegro de aceitação e evolução, que lhe permitia humanidade, vulnerabilidade, romance, humor ácido indefectível e looks matadores. Ou seja: tudo o que poderíamos pedir. (Caio Coletti)

A - Assexuais

BoJack Horseman

Onde ver: Disponível para streaming na Netflix.

Um das animações mais aclamadas da Netflix na última década, BoJack Horseman ficou famosa por confrontar o telespectador com os próprios traumas, além de revelar detalhes satíricos sobre os bastidores de Hollywood. No meio disso, a série também trouxe ao mainstream o conceito de assexualidade, graças ao seu carismático personagem coadjuvante Todd Chavez (voz de Aaron Paul, famoso por Breaking Bad). Mais até do que isso, aliás, a animação levou seu público a uma jornada de descobrimento ao lado do personagem, que terminou a série mais feliz do que começou ao compreender mais sobre si mesmo. (Pedro Henrique Ribeiro)

P - Panssexuais

Sense8

Onde ver: Disponível para streaming na Netflix.

As irmãs Wachowski podiam muito bem ter entrado nessa lista com Ligadas Pelo Desejo, de 1996, um dos melhores thrillers lésbicos de todos os tempos. Mas impossível falar de representatividade panssexual sem falar de Sense8, que representa até melhor a abordagem liberadissima das irmãs à sexualidade - imaginando uma realidade em que oito pessoas dividem a mesma mente, as mesmas sensações e os mesmos desejos, elas criam uma história em que todos os protagonistas, essencialmente, podem amar e querer qualquer pessoa. É a epítome da filosofia “gosto do vinho, não do rótulo (obrigado, Schitt’s Creek, você também poderia estar aqui!) da panssexualidade - e é lindíssimo. (Caio Coletti)

N - Não-binários

Billions

Onde ver: Disponível para streaming na Netflix.

Quando Taylor Mason fez sua primeira aparição em Billions, na 2ª temporada, foi impressionando o bilionário Bobby Axelrod (Damian Lewis) e se provando uma força a ser reconhecida dentro da história de ganância, obsessão e compromisso que a produção contou obstinadamente desde a estreia. Quando descobrimos que Taylor, interpretade por Asia Kate Dillon, se definia como não-binárie e utilizava os pronomes neutros (no inglês, they/them), a série tratou isso como um detalhe para tirar da frente, fazendo os personagens deslizarem na neutralidade da linguagem uma ou duas vezes antes do hábito se estabelecer. Desde então, Dillon tem entregado uma das performances mais complexas e enigmáticas da TV estadunidense, e Taylor se provou uma das presenças mais constantemente surpreendentes e positivas para uma Billions que talvez tenha se estendido mais do que deveria. (Caio Coletti)

+ - Mais

Rocky Horror Picture Show

Onde ver: Disponível para streaming no Disney+.

Revolucionário, transgressor e extremamente à frente de seu tempo, Rocky Horror Picture Show é uma das pérolas do cinema queer que merecia mais espaço do que possui. A trama gira em torno de Brad (Barry Bostwick) e Janet (Susan Sarandon), um jovem casal que acaba preso em um castelo habitado pelo Dr. Frank-N-Furter (Tim Curry) e seus criados Riff Raff (Richard O’Brien), Magenta (Patricia Quinn) e Columbia (Nell Campbell). A produção abraça a autodescoberta de seus personagens e a liberdade de gêneros, além de fazer referência aos filmes de monstro que definiram o subtexto queer hollywoodiano na primeira metade do século XX, se tornando um marco para as produções musicais LGBTQIAPN+ e também para as possibilidades de expressão na cultura pop em geral. (Juliana Melguiso)