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Mangás e Animes

Crítica

Zom 100 começa com boa sátira zumbi, mas acaba vítima do seu próprio tema

Temporada inicial do anime sofre com a insalubridade que condena

10.01.2024, às 17H53.

Quando estreou, Zom 100: Cem Coisas para Fazer Antes de Virar Zumbi chamou a atenção pelo tema: adaptar o subgênero do apocalipse zumbi e seus comentários políticos para o universo das agências de publicidade. Seu protagonista, Akira Tendo, termina a faculdade e consegue a vaga numa grande empresa com que ele tanto sonhava, mas o pesadelo se revela já no primeiro dia: sem tempo para descansar, tomar banho ou mesmo voltar para casa, Akira se vê preso em um verdadeiro inferno corporativo — até que uma epidemia zumbi desconfigura todo o sistema.

O ponto de vista inovador para a premissa batida, adaptada para uma realidade de trabalho precarizado, contribui não apenas para atrair a atenção do público como também para facilitar a identificação de muita gente. Na série baseada no mangá escrito por Haro Aso e ilustrado por Kotaro Takata, Akira enfrenta o apocalipse zumbi ao mesmo tempo em que cria uma lista com 100 atividades que ele nunca teve tempo de fazer por causa do emprego, como colocar dreads e visitar seus pais na zona rural. Salvar a humanidade talvez pareça um objetivo fora de lugar na era do capitalismo tardio, então Akira se contenta em zerar sua lista antes de se tornar um morto-vivo.

A ironia é que, ao longo da sua temporada, Zom 100 se descobriu refém da realidade precarizada que pretende criticar. Os atrasos dos episódios esfriaram o hype em torno da série e colocaram em evidência essa realidade que o espectador — seja o otaku ou o casual — muitas vezes ignora em relação às séries que consome. Vítimas de um calendário agressivo e superlotado, o diretor Kazuki Kawagoe e sua equipe tiveram que atrasar o lançamento dos episódios finais em três meses.

Os atrasos na agenda do estúdio Bug Films não diminuem a qualidade técnica da animação, que se mantém coesa do início ao fim. Algumas decisões artísticas, como a de substituir o vermelho do sangue por várias cores e o jeito engraçado de agir do protagonista, ajudam a diferenciar o anime. A qualidade das cores, texturas e o balanço entre o 2D e o 3D também justificam a espera pelos episódios desta primeira temporada.

Vítima da sua própria crítica, porém, Zom 100: Cem Coisas para Fazer Antes de Virar Zumbi sofre com a qualidade técnica ofuscada por erros de gerenciamento e uma produção sobrecarregada. Um futuro indefinido aguarda Zom 100, mas por enquanto o que fica é uma narrativa curiosa — tanto nos bastidores quanto na tela — sobre as mazelas do mundo moderno, que adere às sátiras zumbis do cinema e as adequa, com naturalidade, à comédia de galhofa presente na maioria das narrativas demografadas como shonen.

Nota do Crítico
Ótimo