Will Smith com o seu Oscar por King Richard (Patrick T. Fallon/AFP)

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Como Will Smith: 10 vezes em que o Oscar premiou atores “pela carreira”

De Julianne Moore a Leonardo DiCaprio, é um fenômeno comum no prêmio da Academia

29.03.2022, às 13H23.

Apesar de toda a polêmica em torno do tapa de Will Smith no comediante Chris Rock, o astro de King Richard: Criando Campeãs ainda saiu do Oscar 2022 com a estatueta de Melhor Ator. Mesmo que elogiado por sua performance no filme biográfico de Richard Williams, o pai das tenistas Venus e Serena Williams, Will subiu ao palco com a aura de quem estava sendo recompensado mais pela carreira que construiu do que pelo desempenho nesse único filme.

A indicação ao Oscar por King Richard foi a terceira do ator, após lembranças por Ali (2001) e À Procura da Felicidade (2006), e a culminação de uma das trajetórias mais vitoriosas das últimas décadas em Hollywood. De Um Maluco no Pedaço a MIB: Homens de Preto, passando por Bad Boys, Eu Robô, Eu Sou a Lenda e Aladdin, Will é inegavelmente um ícone do cinema americano, e um daqueles casos em que o público pensava: sério mesmo que ele não tem um Oscar?

Esse tipo de narrativa pode ser poderosa na competição por uma estatueta. Nos 94 anos da premiação da Academia, gente do naipe de Sean Connery (que levou por Os Intocáveis), Paul Newman (A Cor do Dinheiro), Shirley MacLaine (Laços de Ternura) e Henry Fonda (Num Lago Dourado) se aproveitou da propensão do Oscar a premiar ícones “pela carreira” para, após décadas de labuta, finalmente levar o careca dourado para casa.

Abaixo, nós reunimos 10 casos semelhantes nos últimos 20 e poucos anos de Oscar. Que fique claro, no entanto, que não é pela aparição desses nomes na lista que consideramos as atuações em questão ruins - é só uma questão de analisar a jornada que levou esses atores até o prêmio. Vamos lá:

Brad Pitt, por Era Uma Vez em… Hollywood (2020)

Brad Pitt em cena de Era Uma Vez em... Hollywood (Reprodução)

É curiosamente poético que Brad Pitt tenha vencido o seu Oscar por interpretar o dublê Cliff Booth no filme de Quentin Tarantino, um papel que exige muito do seu charme e fisicalidade, mas pouco mais do que isso. É a recompensa de Hollywood para um dos maiores galãs de sua história, mesmo após uma trajetória de mais de duas décadas em que ele se provou perfeitamente disposto a encarar papéis excêntricos (Os 12 Macacos, Clube da Luta) ou mais tradicionalmente “sérios” (O Curioso Caso de Benjamin Button, O Homem que Mudou o Jogo).

Leonardo DiCaprio, por O Regresso (2016)

Leonardo DiCaprio em cena de O Regresso (Reprodução)

Foi o dia em que um dos maiores memes da internet cinéfila acabou: após mais de 20 anos de dominação de bilheteria e papéis prestigiosos escolhidos a dedo, Leonardo DiCaprio finalmente poderia ser chamado de “vencedor do Oscar Leonardo DiCaprio”. A entrega visceral do ator ao seu personagem em O Regresso ajudou, é claro, mas poucos dos fãs de Leo escolheriam o filme de Alejandro González Iñárritu como o melhor da carreira do ator - ou mesmo um dos três melhores!

Julianne Moore, por Para Sempre Alice (2015)

Julianne Moore em cena de Para Sempre Alice (Reprodução)

Apesar de não ter atraído tanto frisson quanto DiCaprio, o caso de Julianne Moore era igualmente revoltante. Como assim uma das melhores atrizes americanas de sua geração ainda não tinha um Oscar? O papel de uma professora lutando contra o Alzheimer precoce em Para Sempre Alice foi perfeito para incentivar os votantes da Academia a finalmente recompensar a mulher responsável por performances inesquecíveis como aquelas em Mal do Século, As Horas Ensaio Sobre a Cegueira.

Christopher Plummer, por Toda Forma de Amor (2012)

Christopher Plummer em cena de Toda Forma de Amor (Reprodução)

Você é só dois anos mais velho do que eu, meu amor. Onde esteve toda a minha vida?”, disse Christopher Plummer quando subiu ao palco para receber o seu Oscar, vencido por interpretar o pai gay de Ewan McGregor na comédia romântica Toda Forma de Amor. A performance terna de Plummer no filme é mesmo uma preciosidade, mas difícil negar a natureza “honorária” da estatueta, concedida quando o ator tinha 82 anos e já havia se estabelecido há décadas como um dos maiores ícones de Hollywood (vide A Noviça Rebelde).

Jeff Bridges, por Coração Louco (2010)

Jeff Bridges em cena de Coração Louco (Reprodução)

A primeira indicação ao Oscar de Jeff Bridges aconteceu em 1972, por A Última Sessão de Cinema. Embora tenha enveredado mais por blockbusters (vide King Kong e TRON) nos anos seguintes, ele nunca foi esquecido pela Academia, que o indicou outras três vezes (nenhuma delas por O Grande Lebowski!) antes de finalmente concedê-lo a estatueta, por interpretar um cantor country em decadência em Coração Louco. Até o clima na cerimônia foi de homenagem, com Bridges dando um longo discurso sem ser cortado pela orquestra do Oscar.

Kate Winslet, por O Leitor (2009)

Se DiCaprio teve que esperar quase 20 anos e cinco indicações para vencer seu Oscar, a sua colega de elenco de Titanic, Kate Winslet, não ficou muito atrás. Foi ao viver uma possível colaboradora nazista em O Leitor que ela levou sua estatueta - e a prova do status “honorário” do prêmio é que, com 40 minutos de tela em um filme de 2h, essa performance de Winslet estaria muito mais confortável na categoria de coadjuvante (inclusive, foi lá que prêmios como o Globo de Ouro e o SAG a colocaram) do que na de atriz principal.

Tilda Swinton, por Conduta de Risco (2008)

Tilda Swinton em cena de Conduta de Risco (Reprodução)

Dá para acreditar que a indicação de Tilda Swinton ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, por Conduta de Risco, segue sendo a única dela até hoje? Apesar de ser uma das figuras mais inconfundíveis do cinema contemporâneo, e de performances celebradas em Orlando: A Mulher Imortal, Até o Fim e Precisamos Falar Sobre o Kevin, Tilda sempre escolheu papéis, digamos, excêntricos demais para a Academia. Quando viram a oportunidade de concedê-la uma estatueta pela atuação discreta e tensa no thriller estrelado por George Clooney, os votantes não hesitaram.

George Clooney, por Syriana (2006)

George Clooney em cena de Syriana (Reprodução)

Alguém ainda se lembra de Syriana? Não se preocupe se você tiver esquecido que o Oscar de atuação de George Clooney foi por esse thriller político de Stephen Gaghan, que destrincha as sujeiras da indústria petrolífera - mesmo em 2006, pouca gente de fato ligou para o filme, mas o ano era de Clooney, que também estava indicado a Melhor Direção por Boa Noite e Boa Sorte. Visto que a Academia preferiu (acertadamente) premiar Ang Lee por dirigir O Segredo de Brokeback Mountain, sobrou para o astro a categoria de Melhor Ator Coadjuvante, uma coroação do seu legado e sua “virada” na carreira.

Morgan Freeman, por Menina de Ouro (2005)

Morgan Freeman em cena de Menina de Ouro (Reprodução)

Dá para acreditar que Morgan Freeman chegou a 2005 sem um Oscar na prateleira? Indicado antes por filmes bem mais memoráveis (para o bem ou para o mal), como Conduzindo Miss Daisy e Um Sonho de Liberdade, ele acabou levando a estatueta por viver o assistente do técnico de boxe Frankie Dunn (Clint Eastwood) em Menina de Ouro. Apesar da performance tipicamente brilhante e carismática no filme, esse Oscar sem dúvida foi visto pelos votantes como uma oportunidade de celebrar o ator por tudo o que alcançou na carreira.

Robin Williams, por Gênio Indomável (1998)

Robin Williams em cena de Gênio Indomável (Reprodução)

A virada dramática da carreira de Williams nos anos 1980 e 1990 foi fartamente recompensada pela Academia, com indicações para as performances dele em Bom Dia Vietnã, Sociedade dos Poetas Mortos e O Pescador de Ilusões. Depois de impressionar os votantes tantas vezes, no entanto, foi ao encarnar o mentor de Matt Damon em Gênio Indomável que Williams finalmente levou a sua estatueta. Àquela altura, a premiação pareceu mais um reconhecimento tácito do talento do ator do que um testamento ao filme em si.