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Por que Mauricio de Sousa não foi eleito para a Academia Brasileira de Letras?

Quadrinista não conseguiu conquistar a vaga na cadeira 8 da instituição após ter passado por polêmicas no processo eleitoral

27.04.2023, às 17H40.

Não foi dessa vez. O quadrinista Mauricio de Sousa até tentou, mas perdeu por uma larga margem (35 votos a 2) para o filólogo Ricardo Cavaleiri na disputa pela cadeira 8 da Academia Brasileira de Letras. Caso vencesse, ele seria o primeiro representante das HQs na instituição centenária. 

Havia uma expectativa para a eleição, já que Mauricio representava uma continuidade na maior abertura popular na casa de Machado de Assis. Recentemente, os acadêmicos elegeram a atriz Fernanda Montenegro e o cantor e compositor Gilberto Gil para seu quadro. Além disso, nomes mais conhecidos do grande público, como o escritor Ruy Castro e a academica Heloísa Buarque de Hollanda, também foram eleitos nos últimos meses.

De acordo com o presidente da ABL, Merval Pereira, a academia não quer ser necessariamente mais popular, mas se abrir mais, tendo em seu quadro mais “mulheres, negros e indígenas”. Atualmente, o quadro é formado majoritariamente por homens brancos e mais velhos. 

Merval ainda completou afirmando que a instituição não se pauta pela popularidade, como muitos imaginavam com o criador da Turma da Mônica. Apesar disso, o presidente reforçou que ele “não foi rejeitado”, deixando portas abertas para novas tentativas.

Em nota após a derrota, o quadrinista parabenizou Cavalieri e disse que “nesse processo, todos que amam quadrinhos, eu incluído, ganhamos quando tanto se discutiu sobre a importância dos quadrinhos, seu papel fundamental na formação de leitores e como eles podem contribuir, de diversas formas, com a literatura. Agradeço de coração os apoios que recebi nesta campanha e aos que me honraram com seu voto, acreditando na minha proposta para a ABL. Continuarei nesta ideia de trabalhar e aprender com os acadêmicos, assim como vem acontecendo na Academia Paulista de Letras. Um grande abraço a todos que lutam pela valorização dos autores e, principalmente, pela formação de leitores neste nosso Brasil”.

Ao ser questionado se disputaria novamente uma vaga caso ela aparecesse, o autor não respondeu. Uma cadeira nova apenas se abre caso algum “imortal” morra ou abdique. São 40 no total. 

Mauricio de Sousa enfrentou uma eleição conturbada e cheia de polêmicas. Até por isso, muitos acreditavam que as chances de vitória seriam maiores. Um dos que disputava o cargo, o jornalista, produtor de TV e escritor James Ackel, criticou a participação dele em muitos momentos. Menosprezando os quadrinhos, Ackel disse que “gibis não são literatura”. O caso levantou discussões nas redes e suscitou até resposta do artista: “Quadrinhos são revolucionários e ficam entre literatura e arte grafica”. 

Processo eleitoral e a escolha

A votação para uma vaga na Academia Brasileira de Letras costuma ser bastante concorrida. É comum que os postulantes peçam votos e tentem ficar em evidência para poder serem lembrados. Além disso, buscam também se aproximar de alguns membros, chegando até a visitar a sede, no Centro do Rio (o que Maurício fez). 

Junto a essa dificuldade natural, o cartunista enfrentou também algumas específicas para a vaga que concorria. A cadeira 8 era ocupada pela acadêmica Cleonice Berardinnelli, que morreu no início de 2023. Ela tinha uma relação com a filologia (o estudo das línguas). Os acadêmicos têm o costume de escolher representantes da mesa área de conhecimento, algo que fortaleceu Cavaleiri.

Por fim, outro ponto que pesou, de acordo com Merval Pereira, foi a ideia da ABL em fazer um dicionário. Como conhecedor profundo da língua portuguesa, ele foi visto como um nome capaz de colaborar.