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Megan Thee Stallion faz rap raiz e chama fãs para o palco do Rock in Rio

A artista desperdiçou minutos preciosos de show selecionando fãs e tirando fotos no palco

12.09.2022, às 09H17.

Apelidada carinhosamente por seus fãs de "Cavalona", Megan Thee Stallion iniciou o show no Rock in Rio com a imagem no telão de um cavalo negro que soltava luzes vermelhas dos olhos. A apresentação começou pontualmente às 22:20 deste domingo (11), último dia da edição do festival. O desafio da norte americana era capturar a atenção de um público êxtasiado após um show cheio de hits dançantes da carioca Ludmilla.

Cantando "Realer", a rapper entrou em cena vestida de passista de escola de samba. Os adereços gigantes, lotados de penas verdes e amarelas e muito brilho, causaram surpresa e confusão na plateia sobre o objetivo daquilo. Será que ela planejava sambar? Trazer uma bateria de escola de samba ao show? Nada disso, o figurino ficou com uma proposta meio solta mesmo. Sua intenção pode até ter sido apenas de homenagear o Brasil, mas infelizmente faltou um stylist com mais estudo do cenário cultural do país, ou um amigo mesmo, para avisá-la que estava reforçando um esteriótipo gringo negativo a respeito de como se vestem as brasileiras, e especialmente sobre a sexualização das mulheres do país.

Stallion canta sobre a sexualidade feminina com bastante liberdade e sem papas na língua, mas precisamos lembrar que seu discurso é empoderador, não objetificador, e por isso a escolha soou equivocada. Em "NDA", Megan, já livre dos adereços carnavalescos, gingou, rebolou e desceu até o chão. Ela parecia em casa e o público foi receptivo. O ritmo contagiante fazia com que a plateia dançasse mesmo as músicas que não sabiam cantar.

Para se apresentar, a rapper não usou efeitos especiais, imagens complexas no telão ou jogos de luzes. O show foi basicamente composto por Megan, seu microfone e um DJ: rap raiz mesmo. Para quebrar o gelo da apresentação, ela conversava com a plateia o tempo todo: "essa é a minha primeira vez no Brasil e essa é a hora de botar pra f*der, estão prontos pra festa?". A resposta vinha em um uníssono "sim", e ela satisfeita seguia: "estou muito feliz de finalmente conhecer as hotties do Brasil", -que é a forma carinhosa a que chama suas fãs-, algo que pode se traduzir como "gostosas". "Somente as hotties que me acompanham desde o primeiro dia vão lembrar dessa música", completava antes de cantar "Megan's Piano".

A cada nova faixa, a rapper pedia ao DJ: "drop that shit". Os palavrões são uma característica forte no estilo livre de se comunicar de Stallion, suas composições são extremamente explícitas e ela sempre busca expressar a sensualidade em suas performances. Em "Megan's Piano", por exemplo, simulou sexo oral com o microfone. De tanto se empolgar e dançar, Stallion já estava totalmente suada ao fim da terceira canção, mas manteve a pose fazendo carão sem olhar para as câmeras, um estilo "Diva" que colheu referências em Beyoncé.

A rapper emendou faixas como "Freak Nasty", "Simon Says", e o sucesso "Wap", cantado em peso pelos fãs. De tempos em tempos, Stallion pedia para o público repetir em coro: "real hot girl shit", uma espécie de bordão, e o público atendia. Ela também aproveitou o espaço para deixar uma mensagem de amor-proprio. "Se você ama esse corpo f*da que você tem, faça barulho!". Então iniciou a canção "Body", onde dançou quicando no chão e dando tapinhas no próprio bumbum.

O destaque do show ficou por conta do momento em que decidiu trazer fãs para fazer o twerking no palco. Stallion escolheu seus hotties a dedo, e os primeiros convidados, que foram poucos, entregaram todo o rebolado e se emocionaram muito. Infelizmente, parece que as câmeras não estavam prontas para esse momento improvisado. Isso porque a rapper fazia cara de surpresa com a dança dos fãs, mas a câmera do telão seguia mostrando apenas ela. A plateia não conseguiu ver muito do que rolou. Eis que Megan gostou tanto da experiência que decidiu repetir a dose: se na primeira leva, os fãs dançaram "Budget", na segunda, a faixa escolhida foi "Kit Kat".

Dessa vez, ela pesou um pouco a mão e convidou umas 20 pessoas de uma vez para o palco. Imagina o tempo gasto para levar toda essa galera para cima do palco? Foram bem mais de 10 preciosos minutos de show, que custaram caro à rapper: o público do gramado foi ficando entediado de assistir aquele vazio e foi se sentando, deitando, se distraindo... Stallion até tentou retornar de onde parou, mas o local ganhou ares de baile e depois de meet & greet. Todos os fãs queriam abraçar, conversar, tirar selfies e a rapper, sem querer ser indelicada, atendeu um por um, perdendo totalmente o controle do tempo. Ao menos, dessa vez, a câmera capturou tudo, dos twerks até o brilho de Stallion indo embora...

Para finalizar o show, a norte-americana escolheu uma trinca poderosa: a aguardada "Sweetest Pie" gerou especulações de que Dua Lipa, próxima atração da noite, subiria ao palco para cantar com Megan, o que não ocorreu. Ainda assim a faixa levantou a plateia. Depois veio "Her", que novamente sacudiu o público, e para fechar, a escolhida foi "Savage", premiada no Grammy como Melhor Canção de Rap e cantada em parceria com Beyoncé.

Megan deixou o palco do Rock in Rio dizendo que não queria ir, mas que precisava. A apresentação não deixou nada a desejar tecnicamente ou em entrega artística, mas a impressão é de que sua presença foi superestimada. A verdade é que o show de Megan é simples e de repertório desconhecido pra maior parte dos brasileiros, então caberia melhor no Palco Sunset.

Que essa edição sirva de parâmetro para a organização valorizar mais os talentos nacionais, que estão voando alto no festival e merecem seu devido espaço.

Setlist:

Realer
NDA
Megan’s Piano
Freak Nasty
Simon Says
Big Ole Freak
Sex Talk
WAP
Body
Captain Hook
Cash Shit
Cry Baby
Thot Shit
Plan B
Budget
Kitty Kat
What’s New
Don't Stop
Girls in the Hood
Sweetest Pie
Her
Savage (Remix)