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Crítica

Primeira Morte é brega, fantasioso e muito importante

Série chegou à Netflix na sexta-feira (10)

13.06.2022, às 11H54.

Não é de hoje que a Netflix tem apostado em adaptações de romances adolescentes para fisgar os assinantes e emplacar novos conteúdos. Sucessos como Stranger Things Eu Nunca... já estão com temporadas previstas para despedir-se do público, e é esperado que o streaming comece a explorar novos caminhos para encontrar seu próximo carro-chefe. Primeira Morte não teve uma campanha promocional tão dedicada (talvez dado ao momento de muitos anúncios da plataforma, ou justamente por nunca ter estado nos planos), mas conseguiu seu hype pelo boca a boca e movimentação nas redes sociais — e em tempos que a web dita o que é sucesso amanhã, isso é o que basta.

A série foi criada por V. E. Schwab e inspirada inteiramente em seu próprio livro de mesmo nome, publicado em 2020. Assim como qualquer alternativa de escapismo que procurávamos para fugir do caos pandêmico que engoliu o mundo na época, a história de Primeira Morte oferece justamente isso: algo bobo, leve e, muitas vezes, fantasioso.

Misturando Crepúsculo com boas doses do drama e romance shakesperiano, Primeira Morte traz um romance adolescente entre Juliette (Sarah Catherine Hook), uma vampira que precisa matar sua primeira vítima, e Calliope (Imani Lewis), uma jovem caçadora de monstros, também pressionada a ter sua primeira presa. Elas vêm de mundos completamente diferentes, e o intrigante a princípio é justamente esse jogo de opostos oferecido na superfície, que apesar da abordagem um tanto amadora, consegue muito bem revelar seu potencial.

A realidade é que independentemente da capacidade de atuação dos atores em tela ou buracos no roteiro, Primeira Morte acaba tendo uma importância que vai muito além de uma simples história de amor entre duas garotas na adolescência. A série fura a bolha justamente por introduzir a fantasia e a mitologia em sua narrativa, tirando o foco total do romance como fio condutor da produção e tornando-o algo como 10% de tudo.

Como disse Cosima (Tatiana Maslany) em Orphan Black (2013): "Minha sexualidade não é a coisa mais interessante sobre mim", e é exatamente isso que Schwab procurava oferecer quando escreveu e insistiu em Primeira Morte"E se eu só quiser ser um caçadora de monstros? Minha orientação sexual é 10% da minha personalidade na maioria dos dias, por que tem que ser 100% na tela?", indagou a autora em uma entrevista recente à Newsweek.

A importância da série está nas entrelinhas, a partir do momento em que quem está sentado no sofá tem a oportunidade de se enxergar viajando e vivendo em outras realidades como qualquer outro personagem, em qualquer outra produção da cultura pop. Em tempos que representatividade vai muito além do simples existir, Primeira Morte mostra que é também sobre sonhar e fantasiar.

No mais, Primeira Morte é também sobre dar uma chance (ou até mesmo duas) para a televisão que não se leva muito a sério; sendo uma opção de distração agradável que acaba fluindo com facilidade para aqueles que permitem-se render à breguice de mais uma história envolvendo vampiros, monstros e, é claro, o romance açucarado e a inocência das paixões adolescentes. Há diversão, falas bobas, piadas ridículas, cenas de se encolher no sofá e muito clichê sobre amores proibidos.

Há uma trilha sonora capaz de fisgar qualquer um que esteja mergulhado no TikTok, além de jogos de luzes bem atraentes e uma duração adequada para matar a série toda em uma só maratona. Pode não ser para todo mundo e muito menos estar próxima de ser a nova Stranger Things da Netflix, mas tratando-se da tamanha importância e significado que um título como esses carrega, a sua existência já está muito bem justificada — e válida.

Nota do Crítico
Bom