Séries e TV

Crítica

Voltando a Ler Mafalda mostra que a personagem de Quino continua certa em tudo

A queridíssima personagem das HQs ganha uma docussérie no Disney+ e Star+

26.09.2023, às 12H54.

É impossível falar de Mafalda, personagem criada por Quino, sem superlativos como queridíssima, fofíssima, inteligentíssima e afiadíssima. E na docussérie Voltando a Ler Mafalda, dirigida por Lorena Muñoz, o que não falta é elogio a essa menina tão contestadora quanto sonhadora e também a seu genial criador. Estão ali reunidos nomes como os quadrinistas argentinos Liniers, Maitena, Rep e Tute, o jogador de basquete Manu Ginóbili, a tenista Gabriela Sabatini, as atrizes Julieta Zylberberg e Cecilia Roth e mais um sem número de fãs famosos (ou não) que dividem com Mafalda um passaporte argentino.

A série traz também entrevistas com figuras estrangeiras que foram tocadas pelas tiras de Mafalda, afinal a obra de Quino foi traduzida e publicada em vários países. O trabalho de Muñoz tem esse caráter, porém, de uma questão doméstica. Os colegas quadrinistas trazem memórias e compartilham a inspiração por terem crescido lendo Mafalda e sua turma.

É na contextualização de época que o escopo se amplia um pouco. Imagens de arquivo trazem entrevistas antigas de Quino, acesso às revistas originais onde as tiras foram publicadas e muito contexto político e social da Argentina dos anos 1960 e 1970, além das mudanças que estavam acontecendo no mundo, como o movimento hippie e a nova onda feminista. Embora ajude a entender que a sopa (um prato que Mafalda não queria, mas lhe era imposto) foi uma importante metáfora para a Ditadura, a contextualização mostra também como a voz de uma menina de 6 anos serviu para contestar a troca de gerações e os anseios da classe média trabalhadora (Mafalda e sua família) x burguesia (Susanita) x imperialismo consumista (Manolito).

Dividido em quatro partes de aproximadamente 30 minutos, a docussérie não é a coisa mais criativa que você vai ver este ano, mas fala sobre a origem da personagem (criada inicialmente para fazer publicidade de uma linha de eletrodomésticos), o desenvolvimento de Quino como artista, a criação de novos personagens e até o questionamento sobre o real nome do pai da Mafalda, que nunca foi revelado. São capítulos curtos e saborosos, como uma boa fatia de carne argentina com molho chimichurri y papas fritas.

Como diz Tute ao final do último episódio, "outra característica das tirinhas de Quino é a complexidade, que tem muitas camadas e por isso permite muitas leituras ao longo da vida. Você lê de um jeito quando tem 5 anos, de uma forma nova aos 10 e depois com 15 e 20 anos". Por isso, voltar a ler Mafalda, como sugere o título dessa série, é algo que realmente ganha com a repetição. Até porque, infelizmente, muitos dos questionamentos que ela fazia lá nos anos 1960 continuam valendo até hoje. O mundo mudou, mas Mafalda continua certa até hoje.

Nota do Crítico
Ótimo