Quase toda obra de ficção pede de um pouquinho de suspensão de descrença por parte do espectador para funcionar - ainda mais dentro do terror, já que o público está sempre propenso a raciocinar que o protagonista “não devia entrar nessa casa mal assombrada à noite” ou “não deveria checar aquele barulho estranho”. Embora caiba a cada um “comprar” a ideia do filme, é esse exagero que rege - e inevitavelmente quebra - o hypado Boneco do Mal.
O filme de William Brent Bell parte de uma premissa digna de pegadinha do programa do Sílvio Santos. Greta (Lauren Cohan, a Maggie de The Walking Dead), em fuga de um passado triste nos Estados Unidos, dá uma risada nervosa ao descobrir que o trabalho para o qual viajou até o Reino Unido consiste em ser babá de um boneco de porcelana Brahms, tratado pelo idoso casal Heelshire (Jim Norton e Diana Hardcastle) como se fosse de verdade.
É tentando convencer a personagem (e o espectador) de que existe, de fato, um espírito “brincalhão” tomando conta de Brahms que a narrativa tenta nos puxar para a ideia de que existe um cenário assustador por trás desse boneco, mas acaba nos levando a uma sucessão tragicômica de cenas vergonhosas.
Greta, que segue à risca a cartilha dos protagonistas de filme de terror, se mete em situações que beiram o rídiculo, como explorar a casa de toalha após perceber que todas as suas roupas sumiram (e permanecer no local ainda assim), ou entrar em um sótão que se abre misteriosamente. No mínimo, é preciso dar méritos ao profissionalismo de Cohan, que, mesmo em meio ao ridículo, consegue interpretar uma pessoa genuinamente assustada.
A real intenção do roteiro, claro, só é revelada na hora que se descobre o mistério por trás do boneco, e, embora a ideia seja interessante, é montada de forma extremamente preguiçosa em um terceiro ato difícil de engolir. Boneco do Mal quer dar medo, mas sua estrutura apodrecida é mais propensa a entregar risadas do que sustos.
Ano: 2015
País: EUA
Direção: William Brent Bell
Elenco: Lauren Cohan