Poucas coisas vendem um filme melhor do que uma premissa absurda. E Bubble & Squeak, longa-metragem de estreia do diretor Evan Twohy, certamente tem isso funcionando ao seu favor: a comédia com toques surrealistas conta a história de Declan (Himesh Patel) e Delores (Sarah Goldberg), um casal estadunidense que decide passar sua lua de mel em um país fictício onde, por causa de um trauma de guerra, os repolhos são proibidos por lei e odiados por toda a população. Acontece que Delores, dada a erros ingênuos e bobeiras inexplicáveis, resolve fazer a viagem com quilos de repolho enfiados nas calças (é isso mesmo que você leu, ok?), e os dois passam a ser perseguidos pelas florestas e cidadezinhas do país por guardas de fronteira violentos vividos por Steven Yeun (também produtor do longa) e Matt Berry.
“Obrigado a todo mundo que veio ver a estreia mundial do filme dos repolhos”, brincou o chefe de programação do Festival de Sundance 2025 durante a introdução da primeira sessão mundial da obra de Twohy. A promessa que a sinopse trazia, e presumivelmente o motivo para a lotação do cinema naquela ocasião, era a de uma comédia patentemente boba, definitivamente excêntrica - e, quem sabe, com um pouco de insight. Qualquer um que se lembra de Um Cadáver para Sobreviver, filme dos Daniels sobre um cadáver peidorreiro que ajuda um náufrago a recuperar a fé na vida, sabe que a mistura é possível, mas também deve saber que é preciso uma mistura muito específica de entrega cômica ao absurdo e um olhar carinhoso para os subtextos que ele levanta.
Bubble & Squeak, infelizmente, não tem nenhuma das duas coisas. Twohy confia, sim, no potencial absurdo de sua premissa - mas talvez essa confiança penda para o lado da arrogância, porque o roteiro banca muito no humor fácil das falas ridículas ditas com seriedade inabalável (Goldberg é ótima nisso, e arranca as únicas grandes risadas do filme - especialmente ao insistir que o futuro filho do casal seja batizado em homenagem a uma criança que encontram em sua fuga na floresta), e na diversão seca de ver os personagens realizando feitos estúpidos dentro de um universo estético que se pretende sofisticado. A fotografia de Anna Smoronová, em proporção de tela acadêmica, e o design de produção até suntuoso de Mela Melak, denunciam que esse contraste é a única piada que Twohy tem na manga.
E não é que essa seja uma má piada, na verdade, mas é difícil argumentar que ela sustenta, sozinha, quase 1h40 de filme. E sobre o tal do insight dramático inesperado? Bom, até que ele aparece brevemente no clímax do longa, que leva a desconstrução da relação entre os protagonistas à sua conclusão lógica de maneira surpreendentemente inventiva - ali, por um rápido momento, Bubble & Squeak se transforma em uma comédia observacional sobre como as diferenças entre dois indivíduos podem se ampliar ou encolher diante da vontade de construir uma vida juntos, sobre tudo o que pode te dar nos nervos sobre seu parceiro também se transformar naquilo que faz dele o seu companheiro de vida perfeito… e sobre como tudo acaba no final, seja a longo ou a curto prazo.
Mas esse filme está esmagado por baixo de uma comédia com poucas risadas, que confia demais na própria excentricidade para entreter, mas que acaba se mostrando tão insatisfatória e seca quanto uma grande mordida em uma cabeça de repolho puro. Como o vegetal que seus personagens tanto odeiam, Bubble & Squeak tinha o potencial de ser delicioso, dentro da receita certa - infelizmente, o cozinheiro da vez não ajudou.
Ano: 2025
País: EUA
Duração: 95' min
Direção: Evan Twohy
Roteiro: Evan Twohy
Elenco: Sarah Goldberg, Steven Yeun, Matt Berry, Himesh Patel, Dave Franco
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