O cinema nacional sempre teve uma forte tendência de lançar o “filme das férias” para as crianças. De Os Trapalhões e Xuxa até Menino Maluquinho, essa cultura foi se perdendo e ficando mais espremida nas salas de cinema com as invasões de franquias da Disney, Pixar, Dreamworks e Illumination. Mais recentemente, os filmes da Turma da Mônica ganharam força com o projeto da Graphic MSP e as histórias de Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali, em Laços e Lições, graphic novels, de Vitor e Lu Cafaggi. O próximo passo para essas adaptações, claro, seria trazer para a telona o próximo na lista de personagens mais amados da obra de Mauricio de Sousa: Chico Bento.
Juntando forças com o fenômeno das redes sociais Isaac Amendoim, que interpreta o carismático protagonista, Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa segue a qualidade dos filmes de Daniel Rezende para o mundo da MSP e entrega uma mistura perfeita entre a inocência dos gibis e as belas páginas e ideias das graphic novels modernas do personagem.
Na história, conhecemos a ligação entre Chico e um de seus grandes amores: a goiaba. Do seu nascimento, passando pelo convívio com a avó, até finalmente encontrar o pé que dá a melhor das frutas e viver um relacionamento de gato e rato com Nhô Lau (Luis Lobianco), conhecemos de perto o porquê dessa paixão. A vida boa de Chico com o pé de goiaba é ameaçada quando Dotô Agripino (Augusto Madeira) decide construir uma grande estrada que vai passar bem no local da goiabeira, arrancando a árvore e acabando de vez com a fonte da felicidade de Chico. O garoto vai juntar forças com Rosinha, Zé Lelé, Hiro, Zé da Roça e Tábata para impedir que essa tragédia aconteça, mas além de Agripino, eles terão que tentar driblar ainda os próprios pais, encantados com as promessas de avanços que a construção trará para a região.
Isaac Amendoim é o grande destaque desse elenco, e impressiona quem é fã do personagem, ao encarnar com perfeição o espírito moleque de Chico Bento. É uma abordagem tão bem feita, que lembra muito o trabalho com Samuel Costa, em O Menino Maluquinho, e na assimilação da versão live-action com a original dos gibis. O influencer prova que consegue seguir um roteiro e transpor na tela todo o seu carisma dos conteúdos livres das redes sociais. O roteiro, escrito por Elena Altheman, Raul Chequer e pelo diretor, Fernando Fraiha aproveita elementos como a quebra da quarta parede, muito usado nas histórias da Turma da Mônica, como uma forma de Chico e Isaac criarem mais um laço com o público, já que, a história é contada pelo próprio garoto.
Narrativamente, por mais que a trama seja muito simples e ingênua - e isso não é demérito em momento nenhum -, há espaço para brincar com ideias diferentes, assim como a empresa de Mauricio de Sousa vem fazendo ao entregar suas graphic novels para outros artistas contarem essas histórias. Se em “Pavor Espaciar”, Gustavo Duarte mostra como seria Chico Bento abduzido em uma aventura de ficção-científica, em A Goiabeira Maraviósa, Fernando Fraiha abraça visuais encantadores da árvore em si - como Orlandeli fez em "Arvorada" - e encontra no lúdico a melhor forma de representar alguns dos sentimentos de Chico. Seu coração, a surdez social e o encontro metafísico do garoto com várias versões dele e da goiabeira são elementos fantásticos para contar essa história. Fraiha cria seu próprio momento Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, sem perder a mão no humor e no tom infantil que a história pede.
Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa prova - mais uma vez - a força de Mauricio de Sousa na cultura pop nacional e o potencial de seus personagens em estrelar novas histórias, em vários formatos e para diversas gerações. É uma aventura perfeita para as férias, para juntar a família no cinema e mostrar que sim, nós também temos as nossas próprias franquias que merecem lotar os cinemas.
Ano: 2024
País: Brasil
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