The Pitt, novo drama médico da Max, estreia hoje (9) no serviço de streaming da Warner Bros. e promete deixar os fãs com uma sensação de nostalgia. O motivo é a presença de Noah Wyle como o grande protagonista da história, já que o ator se tornou conhecido por estrelar uma das maiores séries do gênero da história da TV norte-americana: ER, conhecida no Brasil como Plantão Médico.
O anúncio do lançamento de The Pitt com Wyle como protagonista deixou muitas pessoas confusas. Quem acompanhou ER entre os anos 1990 e 2000 se acostumou a ver o ator na pele do doutor John Carter, que iniciou sua trajetória na série como um mero residente e terminou como um dos grandes nomes da produção, sendo o membro do elenco original que mais tempo permaneceu no ar, com 11 temporadas. Ao surgir com destaque no trailers e artes promocionais de The Pitt, muitos acharam que tratava-se de uma continuação direta de ER.
A resposta para essa semelhança é simples, mas ao mesmo tempo complicada. Oficialmente, The Pitt não é continuação de ER e não tem qualquer ligação direta com a antiga série estrelada por Noah Wyle. Contudo, The Pitt deveria ter sido uma continuação de ER, como uma espécie de revival ou spin-off. Difícil de compreender? Nós explicamos.
O projeto que não deu certo
Antes de a Max encomendar The Pitt, houve um esforço para trazer de volta a marca ER, que reinava como a série médica mais longeva da TV dos EUA antes de ter o posto roubado por Grey's Anatomy. Tudo começou em 2020, durante o período da pandemia de Covid-19, quando Noah Wyle sentiu que os esforços da comunidade médica para conter o vírus e a dura realidade nas "trincheiras" dos hospitais lotados eram pouco vistos pelos espectadores. Com esse incômodo dentro de si, ele entrou em contato com John Wells e R. Scott Gemmill, antigos produtores e roteiristas de ER, para conversar sobre a possibilidade de ressuscitar a franquia para uma nova geração.
Além do desejo pessoal, Wyle começou a receber contato de vários fãs que, por estarem de quarentena em casa, começaram a maratonar todas as temporadas de ER para passar o tempo. Com tanto carinho do público, ele achou que seria honesto repassar a "informação" a Wells, que tinha tanto crédito pelo sucesso da série quanto ele. No entanto, ele aproveitou a oportunidade para revelar que, caso Wells algum dia desejasse retomar a parceria que os dois tiveram em ER, ele estaria mais do que aberto para a possibilidade.
"Eu estava recebendo todas essas correspondências de socorristas e tive esse desejo de direcionar os elogios para John Wells, então enviei um e-mail para ele e disse: 'Ei, estou recebendo todas essas mensagens adoráveis de pessoas que estão nos agradecendo por mantê-las entretidas ou inspirá-las a seguir as carreiras em que estão, e eu só tenho que dizer obrigado. Exceto pelos meus filhos, [ER] é provavelmente a melhor coisa que já fiz na minha vida, e eu só quero dizer obrigado.' Então continuei e disse: 'Sei que você não quer reiniciar a série. Eu também não. Achei muito inteligente não franquear e diluir o que fizemos... mas se você já quis fazer algo muito menor e muito mais contido — uma história abordando um personagem antigo e apenas descobrindo como ele se sente sobre o que está acontecendo agora na área da saúde, e usá-lo como uma oportunidade de lamentação para dizer o que você quer — eu votaria nisso. Eu estaria a bordo para isso", confessou Wyle em entrevista ao TVLine.
Após a troca de e-mails, Wyle e Wells se reuniram para desenvolver a ideia. R. Scott Gemmill, que também trabalhou com a dupla em ER, subiu a bordo do projeto e juntou-se ao time criativo para reimaginar a trama da série para os dias de hoje. O que parecia um caminho certo para a ressurreição, contudo, esbarrou em alguns problemas burocráticos que acabaram por enterrar todas as chances de um revival.
Exibida pela NBC e produzida pela Warner Bros. TV, ER foi criada por Michael Crichton, escritor, produtor e roteirista que, antes de se aventurar na indústria audiovisual, estudou e trabalhou com medicina enquanto jovem. Ele desenvolveu a trama da série a partir de suas experiências como residente no pronto-socorro de um hospital urbano dos EUA enquanto estudava na Faculdade de Medicina de Harvard, e o resultado foi a criação de uma das séries de maior sucesso da TV no fim do século XX. Crichton morreu em 2008, mas os direitos da obra ficaram assegurados legalmente por sua família, e qualquer possibilidade de a IP voltar a ser explorada precisaria automaticamente de uma negociação direta com sua mulher e filhos.
Foi aí que os problemas começaram a se acentuar. Logo após a Max anunciar a produção de The Pitt, a família de Crichton abriu um processo contra Wyle, Wells e a Warner Bros. afirmando que o projeto nada mais era do que uma reformulação do que seria o revival de ER, que acabou não indo para a frente após as negociações não avançarem. De acordo com o Deadline, os valores oferecidos pelo estúdio à mulher de Crichton foram considerados baixíssimos, e o autor não receberia créditos por sua criação - um problema que eles também haviam enfrentado em Westworld, série da HBO inspirada pelo longa homônimo de 1973 escrito e dirigido por Crichton. Na ocasião, os showrunners Lisa Joy e Jonathan Nolan receberam todos os louros apesar da inspiração clara no projeto, enquanto o nome do diretor aparecia apenas brevemente no final dos créditos dos episódios.
De acordo com o processo (obtido pelo Deadline), a provisão de direitos congelados "proíbe a WBTV de prosseguir com quaisquer sequências, remakes, spinoffs ou outras produções derivadas baseadas em ER sem o consentimento expresso de Crichton. Essa provisão garantiu que Crichton receberia o crédito apropriado, e que ele e seus herdeiros receberiam uma compensação proporcional ao sucesso final de ER, em conexão com quaisquer produções futuras. Ou, mais precisamente, teria garantido isso, se a WBTV tivesse se importado em honrar suas promessas a Crichton."
"Após o falecimento de Crichton em 2008, a WBTV adotou um padrão perturbador de conduta calculado para não celebrar Crichton e as riquezas que ele concedeu à WBTV, tanto o crédito (ou qualquer crédito, nesse caso) quanto para lucrar ainda mais com a criação de Crichton sem pagar a seus herdeiros um único centavo", escreveu a equipe de advogados da família do autor. "The Pitt é ER. Não é como ER, não é meio ER. É um ER completo, com o mesmo produtor executivo, roteirista, estrela, produtores, estúdio e rede do reboot planejado de ER", segue o texto.
As conversas sobre a sequência de ER começaram em novembro de 2022, quando a viúva Sherri Crichton, recebeu uma "ligação de cortesia" de Wells, notificando-a de que um comunicado à imprensa sobre a nova série seria emitido em breve. As conversas subsequentes com a WBTV rapidamente fracassaram. O espólio da família foi informado de que um pedido de crédito de "criado por" para Crichton não aconteceria. O estúdio, de acordo com o processo, endureceu sua posição e criou rachaduras no relacionamento com Sherri, que expôs sua insatifação a Wells. O processo ainda afirma que, apesar das tentativas de negociações, a família de Crichton passou a considerar Wells como um "traidor de uma amizade de mais de 30 anos" por ter dado sequência ao desenvolvimento de The Pitt.
O pulo do gato
Sem a autorização do espólio de Crichton para explorar a IP de ER, os produtores precisaram recalcular a rota e redesenhar o projeto de reboot. Para não perder a integridade da ideia inicial, o time liderado por Wells deu um verdadeiro pulo do gato: a trama deixou Chicago, cidade onde se passava os eventos de ER, e se mudou para Pittsburgh. O personagem de Wyle passou a se chamar Michael "Robby" Robinavitch e ganhou um novo contexto e passado, para distanciá-lo das comparações com John Carter.
A principal diferença entre as duas séries acabou ficando no formato. Enquanto ER seguia o padrão de contar uma história "clássica" de uma atração procedural, que se passa em dias, semanas e meses, The Pitt conta com uma narrativa "fechada". Nos moldes de 24 Horas, o drama médico da Max é situado durante um plantão de 15 horas, no qual cada episódio engloba uma hora da vida da equipe médica liderada por Robby.
"De muitas maneiras, foi uma bala desviada e uma bênção", disse Wyle ao TVLine sobre a incapacidade da equipe de reviver ER. "Porque esse teria sido o foco. Teria sido: Ei, é aquela marca de novo, e quem está voltando do elenco original'. E eu realmente quero que o foco esteja no conteúdo do que estamos tentando transmitir."
Segundo a sinopse oficial, The Pitt é uma análise realista dos desafios enfrentados pelos profissionais de saúde nos Estados Unidos atualmente, vistos pelas lentes dos heróis da linha de frente que trabalham em um hospital moderno de Pittsburgh.
Fazem parte do elenco Noah Wyle (Dr. Michael "Robby" Robinavitch), Tracey Ifeachor (Dra. Collins), Patrick Marron Ball (Dr. Langdon), Supriya Ganesh (Dra. Mohan), Fiona Dourif (Dra. McKay), Taylor Dearden (Dra. King), Isa Briones (Dra. Santos), Gerran Howell (Whitaker), Shabana Azeez (Javadi) e Katherine LaNasa (Dana Evans).
Os dois primeiros episódios da série estreiam nesta quinta-feira, às 23h. A temporada inicial terá 15 episódios e um novo episódio será lançado toda quinta-feira, às 23h, até 10 de abril.
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