*Este texto foi publicado originalmente em julho de 2018 e foi adaptado em 2021
Há quatro anos, em 20 de julho de 2017, o mundo perdeu Chester Bennington. Além de uma legião de fãs saudosos, o vocalista do Linkin Park deixou para trás um legado importantíssimo para a música que, no aniversário de sua morte, pega de modo ainda mais profundo.
Apesar de não ser tão claro na época, o álbum de estreia do Linkin Park, Hybrid Theory, definiu a direção que o rap metal e o nu metal tomariam e, mais do que isso, ajudou (e muito) a aproximar o metal ao mainstream. Junto com The Strokes, o Linkin Park foi uma das bandas que moldou o que seria o rock pós anos 2000. E após o suicídio de Chester Bennington, a relevância do Hybrid Theory vai além de seu significado musical.
A sonoridade estabelecida por Linkin Park em seu primeiro álbum era absolutamente única. A combinação do vocal suave e os gritos de Chester Bennington com o rap de Mike Shinoda surpreendeu o mundo musical. E apesar de ter recebido, em sua época, uma avaliação de duas estrelas e meia na Rolling Stone, hoje a indústria tem um consenso do legado que o álbum deixou e de sua qualidade de modo geral. Hybrid Theory marca hoje a lista dos 1001 Álbuns Para Ouvir Antes de Morrer e foi colocado em #11 nos 200 melhores álbuns da década da Billboard.
E se críticas não convencem, argumentos não faltam do lado comercial. Hybrid Theory é um dos álbuns mais vendidos da história, com 30 milhões de vendas no mundo inteiro. O número supera The Joshua Tree, do U2, e ...Baby One More Time da Britney Spears, que venderam, cada um, 25 milhões de cópias. O sucesso comercial do Linkin Park é incontestável; a banda foi a primeira de rock a ultrapassar o marco de 1 bilhão de views no Youtube.
Hoje, o significado de Hybrid Theory é outro. Depois do suicídio de Chester Bennington, as músicas e letras já intensas da banda tocam de um outro jeito. E por mais que você tenha gritado e sofrido com Chester na sua juventude, ouvir as letras do álbum hoje é uma experiência completamente diferente.
Claro que ouvir Linkin Park, de modo geral, após o suicídio de seu frontman, é diferente. Até seus últimos singles, desconsiderados e criticados por muitos em seu lançamento por sua roupagem absolutamente pop, hoje se transformaram. “One More Light”, faixa-título do último álbum, é uma balada que não parecia nada demais. Hoje, a música se tornou um hino de prevenção ao suicídio e conscientização de depressão e doenças mentais. Com emoção, Chester canta a importância da vida de cada indivíduo, e ouvir o vocalista cantar isso depois do seu suicídio é cortante.
Mas Hybrid Theory tem um outro peso por ser tão visceral. Faixas como “One Step Closer”, “In The End”, “Papercut”, assim como a maioria das músicas do álbum tem um clima pessimista, e tratam das devastadoras experiências que Bennington passou em sua vida. A infância do vocalista teve traumas de abusos e excessos de substâncias, e ele depositou todo o sentimento nas letras do primeiro álbum do Linkin Park. Em “Crawling”, Chester canta a dificuldade de superar: “Estas feridas não vão cicatrizar”.
Pouco antes de sua morte, Chester pediu em entrevista que os fãs superem o Hybrid Theory. O sentimento geral do músico era de que a banda evoluiu e que as pessoas precisam se desgrudar da sonoridade antiga: “Por que nós ainda estamos falando sobre Hybrid Theory? Foi há anos. É um ótimo álbum, nós amamos. Mas siga em frente”.
É difícil. Hybrid Theory significou demais em sua época e ganhou um novo peso hoje. Desculpe-nos, Chester. Mas, pelo menos em datas como essa, nos dê licença para nos prender ao passado.