Pinguim é o exemplo de spin-off perfeito e deixa o terreno pronto para Batman 2

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Crítica

Pinguim é o exemplo de spin-off perfeito e deixa o terreno pronto para Batman 2

Série expande universo de crime criado por Matt Reeves e tem show de Colin Farrell e Cristin Milioti

Omelete
6 min de leitura
11.11.2024, às 00H00.

[Cuidado com spoilers de Pinguim no texto abaixo]

Em tempos de MCU, suas dezenas de ramificações e da exploração de propriedades intelectuais ao máximo, é difícil imaginar qualquer produção milionária que, após o sucesso, não ganhará um derivado sequer. Não há muita novidade nisso, Star Wars está aí para comprovar. Entretanto, na Era dos Streamings, parece que todo mês temos algum spin-off estreando em um dos serviços disponíveis. Batman, dirigido por Matt Reeves e lançado em 2022, no meio do turbilhão que a DC se encontrava nos cinemas e quase um ano antes da reformulação capitaneada por James Gunn, claro, não escapou dessa expansão. A ideia já vinha sendo desenvolvida desde 2021, mas os US$770 milhões arrecadados aceleraram o processo. E ainda bem.

Pinguim, minissérie que seria da Max e logo ganhou o destaque merecido, ao ser rotulado como HBO e colocado no horário nobre das noites de domingo, é um exemplo perfeito em como criar um spin-off com identidade própria, sem nunca perder de vista o material original. A série expandiu a pequena participação de Oswald Cobblepot (Colin Farrell) no filme, para criar uma história que, no início parecia um drama de máfia à la Sopranos, mas que, logo nos primeiros episódios, mostrou que, assim como fez Matt Reeves, sabia mesclar o realismo com o cartunesco - no melhor sentido possível - das histórias em quadrinhos. 

A criadora e showrunner da série, Lauren LeFranc, e o time de roteiristas, foram muito felizes ao apoiar esse jogo de gato e rato do submundo do crime, num tripé que sustentou a história do início ao fim. Oz é o motorista que viu a oportunidade perfeita para ganhar a confiança do maior chefe do crime de Gotham e, com isso, começou a sua escalada, custe o que custar. Sofia Falcone (a excelente Cristin Milioti) saiu do Arkham depois de 10 anos, logo depois da morte do pai, Carmine (Mark Strong substituindo John Turturro) e do irmão Alberto (Michael Zegen). Conhecida como o assassino em série Carrasco, ela na verdade foi usada pelos homens ao seu redor e agora busca não só vingança, mas tomar controle do que é seu. E o último elemento dessa trinca, e talvez o mais surpreendente, é Victor (Rhenzy Feliz), um jovem que perdeu tudo que amava com o ataque do Charada e encontra na vontade de perseverar de Oz, um caminho para seu próprio sucesso nessa máquina de moer gente que é Gotham.

A base dessas histórias foi a cidade, que, assim como nas melhores histórias do Batman, se torna um personagem dentro da trama. Pinguim já começa com a última cena do vilão no filme de Matt Reeves, olhando para a cidade através da janela do Iceberg Lounge. Na TV, os estragos e os bairros mais afetados. Ao longo de todos os capítulos, Pinguim nos mostra que os privilégios e as desigualdades da cidade serão peças fundamentais para o embate ideológico entre Oswald e Sofia. De um lado, a Gotham esquecida, cheia de entulho, lixo, carros virados e criminalidade, que vê o lado rico “do outro lado da ponte” seguir normalmente e, se preciso, até roubando a energia elétrica daqueles que necessitam. Essa opressão exercida por Gotham junta Oz e Victor, dois filhotes desse sistema, que tentam vencer, mesmo quando nada mais parece dar certo.

Colin Farrell é genial como Oswald Cobblepot. Se o vilão já rouba a cena no filme, aqui, dono de sua própria história, temos tempo para acompanhar mais de seus trejeitos, temperamento e personalidade. A relação de Oz e a mãe, Francis (Deirdre O’Connell), é um dos pontos altos, passando por momentos de dedicação e preocupação, mas terminando como uma grande obsessão por atenção e protagonismo, que leva Oz, ainda criança, a cometer o assassinato dos dois irmãos. Pinguim explora a psicopatia do vilão de forma brilhante, começando pela impulsividade na morte de Alberto, passando pela excitação ao queimar a mulher e o filho de Salvatore Maroni (Clancy Brown) vivos e pela frieza ao retornar para casa após deixar os irmãos prontos para morrerem afogados, presos no esgoto. O ápice e doloroso ponto final, chega quando Oz entende que, para alcançar seus objetivos, ele não pode ter laço nenhum, matando Victor com as próprias mãos. O corpo do jovem é deixado na beira do rio, como um indigente. Victor volta ao mesmo patamar do início da série, só mais uma vítima das ruas, sem rosto ou nome que interessem. Pinguim não é uma história de heróis, mas de criminosos que tentam dominar uma cidade. Victor enfim começava a entender isso, o que ele ainda não tinha percebido, era que poderia se tornar uma fraqueza para o Cobblepot.

Do outro lado, Sofia seguiu o mesmo caminho ao matar toda sua família. Em uma dos melhores episódios da série, entendemos como a jovem que amava o legado da família é entregue ao sistema - representado pelo Arkham - para que os negócios continuem. Os Falcone se voltaram contra ela e destruíram sua vida. A vingança de Sofia veio não só fisicamente, mas também na ideologia, ao exterminar de vez o sobrenome mais poderoso da cidade, dando lugar aos Gigante, nome que sua mãe - assassinada por Carmine - carregava. E aqui vale, mais uma vez, ressaltar o incrível trabalho de Cristin Milioti e toda sua transformação ao longo dos capítulos. Depois de cuidar da própria casa, Sofia enfrentou nas ruas o elo que faltava: Oz. Mas o que Pinguim prova sobre Gotham - e isso diz muito sobre o próprio herói que a vigia - é que não adianta tramar os maiores planos, se você não conhece ou entende a dinâmica da cidade. Sofia tem todos os privilégios e a força do dinheiro dos seus dois sobrenomes, mas é Oswald quem entende como ela funciona, seja ao juntar todas as famílias que comandam esse submundo, quase como uma guerra de classes contra os mafiosos milionários, seja no plano que coloca Sofia de volta no Arkham.

É nesse jogo de controle que a série aponta para o que podemos ver em Batman 2. Não é à toa que a produção coloca o vilão olhando para as cadeiras, símbolos do poder, dentro da prefeitura de Gotham. Ser líder do submundo não sacia os desejos de protagonismo de Oswald. A cidade precisa conhecer o seu nome. E ao final da minissérie, Cobblepot está observando Gotham de cima e não mais do nível das ruas ou escondido na rede de túneis onde cultivava e produzia o Bliss.

Warner, DC Studios, HBO e todas as etiquetas que a série carrega, colocaram Pinguim (e Colin Farrell) no andar mais alto da cidade e elevaram ainda mais o nível desse Universo de Crime que Matt Reeves criou com Batman. Seus inimigos ainda estão lá fora, vide Sofia e a carta que ela recebe de sua meia-irmã, Selina, e o principal deles, aquele que os fãs esperaram até o último minuto para ver. O bat-sinal finalmente apareceu, mas cumpriu perfeitamente o papel de ser um simples “continua”. O show é de Oswald Cobblepot e quem tentou tirar isso dele, acabou perdendo.

 

Nota do Crítico
Excelente!
Pinguim
Pinguim

Criado por: Lauren LeFranc

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