Cena de 13 Sentimentos (Reprodução)

Filmes

Crítica

Apesar das boas intenções, 13 Sentimentos se perde na busca de si

Novo trabalho do diretor de Hoje eu Quero Voltar Sozinho lida com tempos e temas mais complicados

13.06.2024, às 08H06.

Nem todas as experiências amorosas são passageiras em tempos de modernidade líquida, e anos de intimidade não necessariamente são sinônimo de conformidade. Seguindo essa premissa, 13 Sentimentos busca mostrar como o afeto não é esquecido com facilidade, e em como ele pode interferir profundamente na vida de cada ser humano disposto a amar. 

O filme do diretor Daniel Ribeiro se encaixa informalmente como a segunda história de uma trilogia sobre relacionamentos, iniciada por Hoje Eu Quero Voltar Sozinho - desta vez, no entanto, a faixa etária sobe um pouco além das descobertas juvenis. João (Artur Volpi) é um cineasta que termina um relacionamento de 10 anos, mas mantém uma amizade próxima com o ex-namorado. No pessoal, João resolve engatar em aplicativos de namoro. No lado profissional, perde a chance de realizar o seu primeiro filme e se vê obrigado a recorrer à pornografia caseira para manter-se empregado.

O que vemos a partir disso é a tentativa, com graus de frustração, de se aventurar na solteirice, o que implica lidar com tabus ligados ao sexo. Ao falar sobre afeto, o longa acompanha as etapas (nem sempre conscientizadas) de um luto amoroso, vivido sempre de forma muito íntima e particular por cada pessoa, ao mesmo tempo em que presta atenção em questões coletivas do sentir nos dias de hoje. O filme mostra de forma crua toda a confusão que envolve redescobertas - e recomeços.

Pelo seu próprio título, que sugere uma catalogação de sentimentos a serem ticados e enquadrados no processo de superação, 13 Sentimentos se deixa prever com facilidade em direção a um desfecho apaziguador. Não existe razão para o protagonista não conseguir se desprender de suas amarras do passado e se abrir para um novo amor, mas a forma como João se perde em si mesmo parece pensada apenas para funcionalizar sua jornada. Uma montagem confusa, que peca em organizar as passagens de tempo e a imaginação fértil de seu protagonista, pode alienar ainda mais o espectador.

Entre romances e relações abordadas de forma casual na vida que se abre para João, é a sua amizade com Alice (Julianna Gerais) e Chico (Marcos Oli) que pode servir de lastro para que o público se aproxime mais. São eles que o apoiam desde o início de sua jornada através do amor, que cuidam e cobram. A dupla de atores, além de sincronizados entre si e com toda a confusão do personagem de Volpi, se presta a algo além da escada ou do alívio cômico, e poderia render muito mais do que se mostra em tela. 

Diferente de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, que no seu coming-of-age lidou muito com a introspecção do seu personagem principal, 13 Sentimentos acaba sendo uma jornada mais solitária. Em tempos de atenção sobre o Eu, quando se fala muito em narcisismo e tudo nas redes sociais aponta para soluções autodidáticas de aprendizado, este segundo longa da trilogia de Daniel Ribeiro talvez seja mais um sinal dos dias do que o próprio filme reconhece.

Nota do Crítico
Regular