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Crítica

Daisy Ridley faz de sua apatia o motor cinzento de Às Vezes Quero Sumir

Longa de Rachel Lambert retrata de forma visceral a dor da solidão

23.05.2024, às 18H14.

Assistir a Às Vezes Quero Sumir pode ser uma experiência angustiante. A protagonista Fran (Daisy Ridley), uma jovem funcionária de um escritório em uma pequena cidade litorânea dos Estados Unidos, parece acorrentada atrás de uma rotina rígida que minimiza o risco de interação social, tanto no trabalho quanto depois dele. Um retrato que vaga entre a timidez e a depressão, mas que faz da falta de reações de sua protagonista o seu grito mais ensurdecedor.

Retratar a depressão no cinema é sempre um desafio. Pelas muitas formas de como uma pessoa pode manifestar o seu estado depressivo, e pela própria incidência dessa verdadeira epidemia contemporânea fora das telas, alguns desses caminhos na ficção podem soar evasivos, oportunistas, desrespeitosos ou pelo menos imprecisos. No caso de Fran, sua apatia sugere aos colegas um simples caso de uma moça introvertida, mas a câmera da diretora Rachel Lambert destaca nos olhos de Ridley um pedido de socorro.

Fran observa tudo ao seu redor com atenção, mesmo que não tenha forças para agir. Tudo é uma luta, seja para interagir em uma pequena festa de despedida no escritório ou participar de uma reunião de briefing. Entre acompanhar uma conversa e outra, Fran imagina diferentes cenários nos quais está morta. Uma idealização mórbida, mas nunca definida como um desejo, uma válvula de escape. Para ela, sumir deste mundo apenas aparenta ser uma missão mais fácil do que adicionar tempero à sua vida.

O escape de Fran surge na aparição de Robert (Dave Merhaje), um novo funcionário do escritório que deixou a cidade grande para recomeçar após mais uma desilusão amorosa. Embora socializar seja uma missão quase impossível para a protagonista, o jeito leve e carinhoso do rapaz conquista o seu interesse e lhe dá forças para ao menos tentar uma aproximação que antes parecia inalcançável.

As tentativas de interação entre os dois são muitas vezes incômodas, seja pelas dificuldades de Fran conversar ou pela insistência de Robert em tirar alguma informação sobre ela. Nesses momentos Daisy Ridley faz da apatia o motor cinzento de Às Vezes Quero Sumir, quando sua expressão - ou a falta dela - diz mais do que qualquer palavra. Ela quer estar ali para ele, mas sua crença de que não tem nada interessante para mostrar a joga de volta para a dor da solidão.

O drama de Fran é canalizado em todos os aspectos do longa. Da arquitetura claustrofóbica de seu escritório à paisagem cinzenta da cidade litorânea tomada pelo céu nublado, Lambert faz do mundo da personagem um lugar sufocante, no qual suas visões de morte parecem mais confortáveis do que encarar a sua própria existência. É o retrato de uma jovem enclausurada por sua própria angústia, no qual os motivos pelos quais ela se encontra nessa situação há muito se perderam, restando apenas um estado constante de letargia.

Diante da dificuldade em retratar a depressão sem desconsiderar as fórmulas romanceadas da infinidade de histórias de boy-meets-girl familiares ao espectador, Às Vezes Quero Sumir faz o caminho relativamente seguro de não cravar uma razão única para explicar a desconexão de Fran. Da mesma forma, o filme mantém seu tom do começo ao fim e não abandona repentinamente as sutilezas do início para tentar chegar a um clímax apaziguador. O final, em vez disso, concentra-se no desempenho notável de Ridley, em sua busca discreta para dar um sentido à vida da protagonista. Para muitos que enfrentam um caminho tortuoso, às vezes ser visto, percebido e respeitado nessa introspecção é tudo o que se precisa.

Nota do Crítico
Ótimo