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Fora da Lei | Crítica

Candidato argelino ao Oscar fala do conflito com a França pela via do gangsterismo

30.12.2010, às 17H00.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 22H00

A redenção pela violência, um traço do cinema policial americano, marca dois filmes francófonos recentes que flertam com gêneros hollywoodianos. Depois de O Profeta (2009), agora é a vez de Fora da Lei (Hors-la-loi, 2010), do diretor franco-argelino Rachid Bouchareb (London River).

fora da lei

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Ambos tratam das consequências criminais causadas pelo conflito étnico entre França e Argélia, mas se o gangsterismo em O Profeta se traveste de filme-de-cadeia, em Fora da Lei a evocação dos classudos filmes de máfia de época é mais direta. O Goodfellas de Bouchareb vai dos cabarés aos ginásios de boxe para fazer uma verdadeira compilação de imagens de triunfalismo bandido.

O trio de anti-heróis é o mesmo que Bouchareb usou em seu filme de guerra Dias de Glória: Jamel Debbouze, Roschdy Zem e Sami Bouajila. Em Fora da Lei, eles vivem três irmãos que, após serem expulsos da Argélia em meio ao massacre de Sétif, em 1945, tentam ganhar a vida de jeitos diferentes. Saïd (Debbouze), encarregado de ficar com a mãe, se instala como pode num barraco em Paris. Abdelkader (Bouajila) é preso em Sétif e Messaoud (Zem), enquanto isso, ironicamente, defende as cores francesas na Guerra da Indochina.

É quando todos se reúnem em Paris que a trama começa, de fato, a assentar. Saïd agora é um bem-sucedido criminoso local, primeiro agenciando prostitutas, depois lutadores de boxe, enquanto administra o cabaré local. Seus irmãos, porém, enxergam-no com desdém. Messaoud e Abdelkader rapidamente se alistam na guerrilha pela independência da Argélia, e sua posição politizada-suicida uma hora entrará em choque com o instinto pragmático de sobrevivência de Saïd.

Evidentemente existe aí uma reflexão em curso sobre a natureza cíclica da violência - obrigatória em todo discurso pacifista nestes tempos de terror reativo e de guerra feita homem a homem - mas ela fica acondicionada às limitações de Bouchareb. Do simbolismo mais imediato (o punhado de terra), às situações banalizadas da mistura cultural (o amor proibido do militante), Fora da Lei sofre para se impor além das questões mais formulaicas e dos desdobramentos mais previsíveis do gênero.

É claro que o filme de gângster sempre tem sua força, uma vocação para o espetáculo, e é versátil o suficiente para se adequar a cenários vários (como uma favela carioca em Cidade de Deus), então Fora da Lei terá seus adeptos. O filme concorre a uma vaga no Oscar de melhor longa estrangeiro pela Argélia, e a familiaridade com o gênero pode favorecê-lo na disputa hollywoodiana. Mas no fundo seu problema é ser justamente familiar demais.

Fora da Lei | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Regular