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Crítica

O Lado Bom de Ser Traída derrapa ao tentar abraçar dois mundos

Filme da Netflix falha como suspense e como produção sensual

01.11.2023, às 18H43.

Não é difícil entender porque o erotismo e o suspense andam lado a lado em tantas produções, das mais clássicas como Instinto Selvagem às recentes como o fenômeno 365 Dias. O senso de perigo e a antecipação do risco são complementos naturais à atmosfera de sensualidade que tais filmes almejam e, quando bem empregados, potencializam a tensão sexual entre seus protagonistas – o que, geralmente, é o objetivo final.

Por isso mesmo, é frustrante quando uma produção deste subgênero não encontra o equilíbrio entre os seus elementos – e O Lado Bom de Ser Traída, da Netflix, é mais um exemplar desta leva.

A história, baseada no livro homônimo de Sue Hecker (pseudônimo da escritora brasileira Débora Gimenez), acompanha Barbara (Giovanna Lancellotti). Sócia de um escritório de contabilidade, ela está prestes a casar, mas descobre – em plena despedida de solteira – que seu noivo Caio (Micael Borges) a traiu. Desolada, ela termina o relacionamento e então se envolve com Marco (Leandro Lima), um juiz com um passado misterioso e, literalmente, o homem dos seus sonhos.

O problema é que logo de cara o filme falha em desenvolver seus dois protagonistas e, o mais importante, o relacionamento entre eles. A tensão sexual está presente, e os atores têm química, mas o filme faz pouquíssimo para dar lastro ao romance – e mesmo ao sexo entre eles. Quando vem a primeira cena tórrida entre os dois, ela soa quase gratuita. Não no sentido de ser explícita demais ou desnecessária, mas no sentido de fazer pouco sentido mesmo. Afinal, até aquele ponto da história, Marco já havia deixado Barbara sozinha para falar com outra mulher em um bar e interrompido um momento romântico para atender uma ligação (sem nunca voltar)... e nada disso parece especialmente excitante.

A falha poderia ser perdoável se o casal fosse mais trabalhado em seguida, mas não é o caso. O envolvimento de Barbara e Marcos é resumido a uma montagem de cenas de sexo que não são especialmente notáveis, só para em seguida ser interrompido por uma série de contratempos, indo desde o passado do juiz até uma rocambolesca trama criminosa.

E é nisso que O Lado Bom de Ser Traída se complica: o filme tenta colocar toda uma trama de suspense, com cartéis de drogas, tentativas de assassinato e reviravoltas, em pouco mais de 1h30 de duração, mas sem que isso sirva necessariamente ao casal protagonista ou às cenas quentes entre eles. Ao fim, o longa dirigido por Diego Freitas não é bem-sucedido nem como thriller, nem como produção sensual – na tentativa de abraçar os dois universos, ele apenas falha.

Para não cometer injustiças, vale dizer que tanto Giovanna Lancellotti e Leandro Lima entregam o que é exigido deles, mesmo quando os outros elementos não ajudam. Na pele de Patty, a melhor amiga de Barbara, Camilla de Lucas rouba a cena e traz muito carisma e bom-humor, fazendo valer cada momento em que aparece.

Nem o carisma do elenco, porém, consegue tornar o filme mais interessante. Há, em algum lugar da história, a lição de que “o lado bom de ser traída” está em se livrar de um relacionamento que não serve e dar boas-vindas a novas experiências, sexuais ou não; mas o caminho até tal lição é, com o perdão do trocadilho, muito pouco prazeroso para quem está assistindo. Uma pena.

Nota do Crítico
Ruim