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Os Estranhos - Capítulo 1 é terror que não assusta e não surpreende

Novo filme da franquia, que inicia trilogia de origem, escorrega nas conveniências do gênero

29.05.2024, às 11H28.

Lançado em 2008, o primeiro Os Estranhos chamou atenção pela sutileza com que montava o terror dentro de uma cabana na floresta. Depois de um derivado lançado sem muito alarde em 2018, a franquia volta para os cinemas com maiores ambições: contar numa trilogia a origem dos vilões que dão o nome ao filme. Parece um projeto temerário, mesmo porque o centro das sutilezas de Os Estranhos era justamente a falta de contexto e explicação para as motivações e as ações dos algozes.

Ainda assim, Os Estranhos - Capítulo 1 preserva os mesmos moldes da trama que iniciou a série: um casal aterrorizado por assassinos mascarados dentro de uma casa no meio da mata. A dupla protagonista agora é vivida por Madeleine Petsch (Riverdale) e Ryan Bown (Everything I Know About Love), jovens apaixonados à procura de uma viagem de carro para deixar os problemas do primeiro mundo de lado. Com um pequeno imprevisto ao parar numa lanchonete de beira de estrada, eles se veem obrigados a dormir em um charmoso mas esquisito Airbnb no meio de uma mata isolada do mundo. Como esperado, mascarados mal intencionados surgem do nada e a caçada começa.

A dinâmica entre os protagonistas foca na simplicidade de jovens apaixonados, sempre atentos ao que acontece ao redor, mas descrentes de que a noite lhes reserva algo mais do que um repouso antes de seguir viagem. Nesse esquema, Renny Harlin, diretor veterano de Hollywood que desde os anos 1980 equilibra terror com thrillers policiais na sua filmografia, tenta construir o básico de conexão para o espectador, mas não tira, especialmente de Bown, o necessário para tal. Até aí, nada de muito novo; o próprio Os Estranhos original não se destacava pela força de seu casal, mas pelo desconcerto da situação em que eles são inseridos. O que importa é o vigor com que esse tipo de filme consuma suas fantasias de vigilância e invasão, e é aí que está o problema de Capítulo 1.

Por mais que use a bizarrice das máscaras e as aparições repentinas dos assassinos dentro da casa, há pouco tensão construída e mesmo nos momentos de horror e impacto Harlin opta quase por esconder a violência, ou qualquer tipo de cena mais assustadora. A aposta está na atmosfera, mas, muito por conta das conveniências de um roteiro que abusa da boa vontade do espectador, não se alcança nada que permita criar de fato um clima de suspense.

Em meio a um projeto que agora se estenderá por mais dois longas-metragens, resta apontar dois méritos discretos. O primeiro é que Madeleine Petsch mostra algum talento na defesa da sua personagem principal, a quem cabe o ponto de vista que serve de fiador do espectador. Outro mérito é que este Capítulo 1 não vive de referências ao primeiro filme, o que não é de se espantar em termos de terror (os filmes de franquia dentro do gênero já são conhecidos pela autonomia e pelo episódico porque as convenções de simplicidade no próprio gênero permitem que seja assim) mas vale elogiar de qualquer forma, já que a nostalgia precoce e a auto-homenagem se espalham por Hollywood indiscriminadamente. Ainda assim, é frustrante que o prelúdio comece desperdiçando tudo aquilo que originalmente foi o trunfo de Os Estranhos.

Nota do Crítico
Ruim