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Crítica

Um Ano Inesquecível – Inverno traz amadurecimento em meio a poesia e neve

Mesmo com boas intenções, terceiro longa da quadrilogia peca no uso de diversidade e tramas mal resolvidas

22.06.2023, às 14H44.

Altos e baixos é a expressão que melhor define acompanhar os lançamentos da quadrilogia Um Ano Inesquecível, adaptações do livro de mesmo nome. Em Verão, o Carnaval teve seu fim com um filme esquecível, já Outono levantou os ânimos com música e uma originalidade construída por Lázaro Ramos. Agora, Um Ano Inesquecível - Inverno, conto de Paula Pimenta, tem coração em sua jornada de amadurecimento, mas não consegue se sustentar ao querer trazer vários temas de uma vez só.

Diferentemente dos cenários familiares do Brasil que nos foram apresentados nas histórias anteriores, o novo filme transporta o espectador para um resort de inverno no Chile. Na história, Mabel (Maitê Padilha) planejou celebrar seu último ano do ensino médio com suas amigas em uma viagem de formatura, mas seus planos são frustrados quando sua família decide viajar para os alpes chilenos. Enquanto tenta passar o tempo contra a sua vontade, a jovem se inscreve em um concurso literário que ocorre no local e, em busca de uma inspiração para o seu conto, acaba descobrindo que um grupo de jovens do resort está envolvido em uma misteriosa seita na floresta. Esse encontro instiga Mabel a escrever sobre eles.

A direção de Caroline Fioratti é importante para trazer ao longa elementos de outros gêneros além das comédias românticas e criar uma identidade própria. A cineasta tem uma bagagem ampla ao ter comandado tanto filmes rom-coms, como Meus 15 Anos e Amarração do Amor, como também pisou em produções mais dramáticas como no recente Meu Casulo de Drywall. Para Inverno, Caroline quis explorar as inseguranças e medos de Mabel pelo seu futuro sem suas amigas usando os elementos de produções coming of age, ou de amadurecimento juvenil.

É possível enxergar as referências de As Vantagens de Ser Invisível, Lady Bird: A Hora de Voar e Sociedade dos Poetas Mortos quando o filme nos apresenta a relação singela que a jovem vai desenvolvendo com os jovens misteriosos que amam poesia e filosofar sobre a vida. Ao citar poemas de autores latinos como Gabriel García Márquez e Gabriela Mistral, a produção sabe enriquecer trazendo um toque a mais para o longa, construindo junto da fotografia os momentos de solidão/solitude da protagonista.

Mesmo com um grupo grande, as jornadas dos personagens são bem construídas e atuadas em cena: Benjamin (Michel Joelsas), o instrutor do lugar e par romântico de Mabel, carrega uma culpa por conta de um luto; Renata (Catariana de Carvalho) lida com suas inseguranças sobre seu corpo com afronta e tenta ajudar sua namorada, Julia (Larissa Murai), a se abrir para sua mãe conservadora; já o fotógrafo Adriano (João Manoel) luta para manter seu espaço como pessoa preta em um turismo cercado de brancos. Para liderar esse grupo de jovens desajustados, Rita von Hunty encarna o papel do bem-resolvido Glauco com muita empatia e carisma. É possível enxergar boas intenções ao trazer essa diversidade e suas narrativas ao mirar numa militância efervescente juvenil, porém, o resultado que fica em tela é uma visão caricata desses temas, o que fica mais grave quando essas tramas são usadas para o crescimento da protagonista: uma garota branca, hétero e de classe média-alta.

Mesmo com esses deslizes, é admirável acompanhar a jornada íntima e poética de Mabel, tanto que o longa até inclui a temática de saúde mental quando apresenta a jovem e outros personagens tendo crise de ansiedade ou uma possível síndrome do pânico em momentos sérios. Essa abordagem seria mais rica se fosse melhor concluída, pois, por mais que Inverno mostre esses episódios, o longa nunca se expressa sobre o assunto em palavras - o que seria importante considerar em uma produção voltada para adolescentes e jovens adultos.

No meio desse novelo de tramas e sub-tramas, há ainda o desenvolvimento do arco romântico entre Mabel e Benjamin, que não deixa a desejar ao construir bem a dinâmica enemies to lovers - trazendo o peso dramático comparado aos outros filmes da quadrilogia. Outros arcos, no entanto, não tiveram a mesma atenção. Muitas resoluções foram relegadas a cenas pontuais, como nas conversas de Mabel com a mãe (Letícia Spiller) e com suas amigas. Além disso, o longa deixa o espectador na dúvida se Mabel ganhou o concurso após entregar seu texto.

Um Ano Inesquecível – Inverno luta para entregar um longa caloroso ao retratar uma jornada de crescimento com estilo, poesia e alma, mas ao tentar abordar tantos temas, acaba se perdendo no processo e entrega desfechos sintéticos. Agora, nos resta saber como será a conclusão da quadrilogia com Um Ano Inesquecível – Primavera que chega em 23 de junho no Prime Video.

Nota do Crítico
Bom