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Crítica

Um Ano Inesquecível – Outono esbanja personalidade e encanto com romcom musical

Direção de Lázaro Ramos e elenco estelar dá o tom em segundo filme das quatro estações

15.06.2023, às 16H59.

Se Um Ano Inesquecível – Verão, filme que abriu a quadrilogia no conforto, nos fez abaixar as expectativas para os próximos filmes, o espectador pode se surpreender com Um Ano Inesquecível – Outono, o segundo longa que adapta o livro homônimo. Com a direção de Lázaro Ramos e elenco estelar composto por cantores como Iza, Rael, Lulu Santos e Larissa Luz, o filme do Prime Video conseguiu trazer pautas importantes da realidade brasileira, sem esquecer o filtro e a leveza das comédias românticas.

A nova história se passa em São Paulo e apresenta Anna Júlia (Gabz), uma estudante de direito que almeja um estágio fixo no escritório de advocacia onde trabalha. Sua ambição é tanta que afeta outras áreas de sua vida ao evitar conflitos relacionado a sua mãe Pattie (interpretada pela cantora Iza) e o relacionamento com seu pai carinhoso (Bukassa Kabengele). Isso até que ela conhece João Paulo (Lucas Leto), um músico que sonha ser artista e com quem inicia um romance. O tom desafinado dessa relação é que Anna odeia música, e o longa acompanhará o que desenrola tanto da protagonista quanto de seu parceiro.

Como a música é o assunto central, o filme entrega várias sequências musicais com coreografias e referências que os fãs do gênero vão identificar, como “Foco e Fé”, música que abre o longa e traz performances semelhantes à de “Another Day of Sun” de La La Land. Ao invés da ensolarada Los Angeles, a produção carrega o DNA brasileiro ao botar os dançarinos para perfomarem na Avenida Paulista.

Aliás, o que não falta em Outono são as referências e homenagens à música brasileira: seja a aparição de uma cover de Rita Lee, que agora traz um significado maior sem a presença da Rainha do Rock, os personagens cantando regravações de canções conhecidas como “Várias Queixas” e “Coleção”, ou a trilha original que cita diversos cantores da MPB em “Não Tem Como Não Gostar do Gil”. Mesmo com outros temas colocado em cena, o longa-metragem insiste em adicionar as melodias do começo ao fim em momentos oportunos.

Se Verão foi uma trama mais contida ao seguir a receita de rom-coms à risca, a direção de Lázaro Ramos - em seu segundo trabalho como cineasta - conseguiu trazer mais personalidade a seus personagens e enriquecer a ambientação onde se passa a história, mantendo o clima de romance. Mesmo usando e abusando da famosa avenida, Outono explora outros lugares além do cartão-postal da cidade: como os bares e karaokes com decorações antigas, marca registrada das noites paulistanas, os parques e o Viaduto Santa Ifigênia.

Ainda que a trama trabalhe as jornadas íntimas dos personagens, o longa conseguiu acrescentar assuntos que permeiam a sociedade brasileira, e mais especificamente as grandes cidades. Por ter um elenco composto majoritariamente por negros, o longa pincela, sem pesar para o drama, as questões de racismo estrutural em pequenos detalhes que afetam Anna, JP, Wesley e até Sophia (Luz), chefe da protagonista e que também sofre do preconceito mesmo em cargo de liderança.

Há também a presença de uma ocupação urbana, um prédio antes abandonado sendo ocupado por pessoas que não tinham moradia e transformaram em espaço social, onde a jovem adentra para obter informações importantes para ajudá-la a conseguir o estágio. Com essa vivência, Anna Julia e o espectador têm um vislumbre da realidade de como funciona o coletivo, trazendo importantes reflexões sobre os espaços urbanos.

Mesmo com todas essas pautas presentes, Outono conseguiu equilibrar bem esses pontos, mantendo o foco na música e romance de seus personagens. Trabalho esse bem coordenado por Ramos e fruto de um roteiro escrito a várias mãos de Keka Reis, Caroline Fioratti, Marcelo Saback, Thamyra Thãmara e consultoria de Babi Dewet - autora do conto que inspirou o filme.

Entretanto, se há um ponto a ser considerado, a presença da Iza como a mãe da protagonista soa destoante. A cantora até consegue manter o seu status de artista ao entregar presença em cena e excelentes apresentações com seu poderoso alcance vocal, mas ela não consegue sair da persona de cantora para fazer uma mãe que luta para conquistar o afeto da filha. Muito disso vem da idade das atrizes: Iza tem 32 anos, enquanto Gabz tem 24 e interpreta uma jovem de 19. Ou seja, por mais que haja coração, é difícil acreditar que duas são mãe e filha, mesmo com a tentativa do roteiro de introduzir flashbacks de Iza e a jovem Anna.

Um Ano Inesquecível – Outono ficará na memória, seja pelas suas músicas chiclete ou narrativa singular e encantadora, agora, resta saber se o próximo longa, Um Ano Inesquecível - Inverno que chega em 16 de junho, manterá essa qualidade entregue ou ficará no marasmo da primeira parte.

Nota do Crítico
Ótimo