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Como Mulher-Maravilha 1984 mantém fidelidade aos vilões sem seguir HQs à risca

Mulher-Leopardo e Maxwell Lord seguem essência dos quadrinhos em uma roupagem inédita

29.12.2020, às 17H45.

Parte da graça dos filmes de super-heróis é, sem dúvidas, a figura do vilão. Batman: O Cavaleiro das Trevas não seria o mesmo sem o Coringa de Heath Ledger, e a vitória dos Vingadores em Ultimato certamente foi amplificada pelo desafio estabelecido pelo Thanos de Josh Brolin. Sendo assim, é fácil entender por que tantos fãs vibraram com o anúncio de Mulher-Leopardo (Kristen Wiig) e Maxwell Lord (Pedro Pascal) em Mulher-Maravilha 1984, já que a dupla causou grandes problemas para a heroína nos quadrinhos. O filme de Patty Jenkins, por sua vez, surpreendeu ao mudar drasticamente as origens dos personagens ao mesmo tempo em que manteve suas essências.

[Cuidado com spoilers de Mulher-Maravilha 1984]

Talvez o mais “fiel” em relação aos quadrinhos seja Maxwell Lord. A versão de Pedro Pascal segue boa parte de sua concepção, já que originalmente o personagem é um jovem que abre mão de seus escrúpulos em nome do sucesso empresarial. Sua sorte muda ao encontrar Kilg%re, computador criado por um dos Novos Deuses, que é dotado de uma inteligência artificial capaz de montar um plano genial ao lado de Lord em busca de dominação mundial.

Tecnologias alienígenas à parte, esse é o esqueleto da jornada do personagem em Mulher-Maravilha 1984, já que Pascal se aproveita de maneirismos para compor um personagem persuasivo e manipulador. A gritante diferença, porém, está no fato de que a nova versão é, na verdade, um trambiqueiro fracassado - que nem mesmo se chama Maxwell Lord -, ainda em busca do sucesso. Em uma reviravolta esperta, o longa se afasta de uma das poucas características definitivas do personagem para justificar sua dedicação em buscar a Pedra dos Sonhos.

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Outro atributo radicalmente alterado para o filme foi seu super-poder - ou melhor, a ausência dele. Durante a saga Invasão!, Maxwell Lord se tornou um telepata capaz de ler e controlar mentes. Essa habilidade, inclusive, foi fundamental para que, nas HQs, a Mulher-Maravilha cruzasse a linha e cometesse um dos poucos assassinatos de toda a sua carreira heróica.

Sem conferir o poder ao antagonista, a forma que o longa encontrou para que Max “controlasse” as pessoas foi através da combinação de sua lábia com a habilidade de exigir algo de volta ao conceder desejos. Além de não precisar explicar a origem de uma habilidade que pode ser utilizada por outro vilão de Diana no futuro, essa escolha ainda facilita a criação da Mulher-Leopardo, que também teve sua origem drasticamente alterada para Mulher-Maravilha 1984.

Mulher-Leopardo: menos rituais, mais desejos

Se Maxwell Lord sofreu mudanças pontuais, a Mulher-Leopardo ganhou uma repaginada quase completa. A Barbara Minerva dos quadrinhos era uma arqueóloga que durante uma expedição ao continente africano acaba passando por um ritual do deus Urzkartaga para se tornar a guardiã de uma tribo. Seus poderes se originam de uma mistura de plantas misturadas com sangue humano que a conferem velocidade, força sobre-humana e é claro, o visual felino.

Para os cinemas, toda a trama envolvendo expedições e rituais foi cortada, ligando sua transformação primeiro à Pedra dos Sonhos e depois a Maxwell Lord - que torna literal seu desejo de se tornar uma “predadora alfa”. Ainda que mais simples, essa mudança permitiu à personagem de Kristen Wiig uma origem mais ligada às suas ambições e inseguranças.

Ao ligar a maldição felina à simples vontade de ser mais parecida com Diana Prince (Gal Gadot) e suas consequências malignas ao “preço” a se pagar pelo desejo, o longa cria uma motivação mais palpável para colocar as duas em rota de colisão. A decisão faz mais sentido do que simplesmente explicar que, como nas HQs, o ódio de Barbara vem de uma irracional vontade de possuir o Laço da Verdade - que nem faria sentido, considerando o fato de que o apetrecho se manteve escondido da humanidade junto com a heroína.

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Considerando que a figura da Mulher-Leopardo foi criada originalmente com o intuito de personificar inveja, é interessante que essa versão tenha a sensibilidade de não tornar a vilã um simples antagonista que culpa e odeia a heroína por suas próprias frustrações - já que sua queda está ligada diretamente às consequências da Pedra dos Sonhos. O mesmo pode ser dito sobre Maxwell Lord, que mesmo com os poderes de um artefato divino consegue fugir da figura do telepata manipulador já visto em produções como X-Men: Primeira Classe e Jessica Jones. Considerando que a dupla caiu nas graças do público, é justo dizer que as novas versões souberam extrair a essência de personagens tão queridos pelos leitores.

Mulher-Maravilha 1984 conta com o retorno da diretora Patty Jenkins, Gal Gadot e Chris Pine, mas também inclui Pedro Pascal e Kristen Wiig como nova dupla de vilões.

O longa já está em cartaz nos cinemas brasileiros. Lá fora, o filme passa nas telonas e também no streaming HBO Max, ainda indisponível na América Latina.