Séries e TV

Crítica

Arrow - 3ª Temporada

A crise de identidade de Arrow

15.05.2015, às 17H55.

Se na segunda temporada de Arrow vimos a transformação positiva de Oliver Queen (Stephen Amell) em herói, juntamente de seu time, nesta terceira a crise de identidade esteve presente do início ao fim para deixar um gosto amargo na boca dos fãs e um sentimento agridoce. Uma jornada inesperada que dividiu o público numa guerra de euforia e insatisfação.

Na primeira parte da temporada, a trama "quem matou Sara Lance?" serviu para unir os personagens e introduzir definitivamente Ra's Al Ghul (Matt Nable) e sua Liga dos Assassinos, colocando Oliver na linha de frente da batalha para proteger Thea (Willa Holland) dos planos maléficos de Malcolm Merlyn (John Barrowman). Como a questão familiar sempre foi muito importante para a série, houve coerência em ver o herói tomando decisões baseadas na proteção da irmã, seu último ente querido vivo (até onde ele sabe, claro, afinal temos seu filho em Central City).

Essa posição protetiva de Oliver foi mantida até o fim da temporada, com a decisão de entrar para a Liga e se tornar o próximo Ra's Al Ghul, se sacrificando para salvar a irmã. No fim, tudo não passava de um plano dele com Malcolm para destruir Ra's, concretizando o clichê "o inimigo do meu inimigo é meu amigo". Fica claro que, desde o assassinato de Sara (Caity Lotz), este foi o objetivo de Merlyn, ocupar a posição de líder da Liga dos Assassinos. Já declarado o vilão de toda a série, Malcolm foi o grande nêmesis da temporada - sem de fato tomar essa posição.

No meio da temporada, Oliver Queen foi morto para gerar burburinho em torno do já esperado Poço de Lázaro. Sua morte acabou servindo também também para experimentar como a dinâmica e carisma dos personagens secundários da série, como Diggle (David Ramsey), Felicity (Emily Bett Rickards), Roy (Colton Haynes) e Laurel (Katie Cassidy), funcionariam sem o protagonista. O teste de narrativa pôs à prova a interação de todos sem um líder os guiando abertamente, cada um lutando por seu ideal dentro em um grupo. Tudo funcionou como uma espécie de laboratório, criando a integração necessária para uma série ao estilo Liga da Justiça.

A crise de identidade de Queen, que não sabia mais se era Oliver, Arqueiro ou Al Sah-him, acabou por refletir no andamento da série. Entre altos e baixos da trama, a sensação é de que algumas histórias precisaram ser alteradas de última hora para encaixar em um plano maior. O crossover com The Flash, primeira série derivada de Arrow, já estava planejado e foi um sucesso de crítica e audiência - mas a entrada de outros elementos talvez não estivesse previsto.

O sucesso das séries - e sua sobreposição - fez surgir a ideia de Legends of Tomorrow. Como a nova a produção foi aprovada no meio da recém finalizada temporada, os roteiristas tiveram que inserir elementos chave de uma hora para outra, como o Poço de Lázaro e os metahumanos que não adquiriram seus poderes através da explosão do acelerador de partículas de The Flash. Essas mudanças talvez tenham refletido na falta de consistência de algumas tramas, como a entrada de Oliver para a Liga, algo que aconteceu às pressas e gerou confusão de conceitos, e a importância de Nyssa (Katrina Law) e Ray (Brandon Routh). Isso sem falar na saída de atores como Colton Haynes e J.R. Ramirez, que tinham papeis importantes e precisaram ser excluídos do planejamento.

Em entrevistas, os produtores fizeram questão de enfatizar que a terceira temporada de Arrow encerraria um ciclo e, ao fim dela, a série que conhecíamos já não existiria. E assim foi, com um final de temporada que poderia servir como final de série, muitos ganchos para o próximo ano e um vilão já declarado, Damien Darhk, líder da C.O.L.M.E.I.A. e ex-integrante da Liga dos Assassinos. A sensação, novamente, é de que quiseram dar um fim corrido nas tramas estabelecidas para que a próxima temporada pudesse começar ainda mais alinhada com The Flash e Legends of Tomorrow. Estão criando um universo integrado mais coeso, mas não estavam preparados para isso.

Pensando desta forma, a crise de identidade - da série e do protagonista - faz sentido em um plano maior. Mesmo que tenha parecido errado abordá-la nesse momento, ela serve para colocar em ordem o que havia sido estabelecido até agora, além de mostrar que o novo Team Arrow com Canário Negro, Nyssa, Atom, Speedy e Diggle funciona sem o Arqueiro.

Um dos pontos negativos foi termos um Ra's Al Ghul caricato demais, por vezes novelesco, que não cumpria seu papel de ponto alto da trama como Slade Wilson (Manu Bennet) foi na anterior. Os flashbacks, que no segundo ano foram complementares e explicativos, nesta ficaram cansativos e bobos, alinhando-se somente ao final com o vírus AlfaÔmega, posteriormente transformado numa ameaça terrorista à cidade. Aliás, a fórmula de um ataque gigantesco à cidade por ano se desgastou, deixando tudo fácil demais de resolver.

Os pontos altos foram Olicity virando ship oficial da trama e a introdução de Ray Palmer, além de elementos como a possível aparição do Lanterna Verde na próxima temporada e a abertura para o universo pleno da DC com um lado sobrenatural e poderes sem origem científica. A cereja do bolo foi Katana (Rila Fukushima), muitíssimo bem introduzida na história, e que poderá ser explorada posteriormente.

Por fim, Arrow teve uma temporada que encerrou um ciclo para o que conhecíamos na série até agora e deixou os personagens num patamar ideal para aproveitar as tramas dos quadrinhos em sua plenitude. As três temporadas soaram como um prelúdio, uma preparação para o que estar por vir no universo televisivo da The CW e da DC. Apesar do ano instável, que contou com a boa vontade dos fãs em alguns momentos, os roteiristas conseguiram amarrar as tramas para iniciá-las como uma nova série num novo cenário que está por vir. Para alguns fãs, a diversão e os conflitos que dão identidade à série estavam presentes sem afetar a experiência de entretenimento. Para outros, foi a pior temporada de todas. Apesar desse cenário díspar, ainda há esperança em terras estreladas.

 

Nota do Crítico
Bom