Joel Ederton e Jennifer Connelly em "Matéria Escura"

Créditos da imagem: Apple TV+/Divulgação

Séries e TV

Entrevista

Matéria Escura vai além do multiverso para explorar escolhas e o caminho do amor

Série do AppleTV+ tem Joel Edgerton, Jennifer Connelly e Alice Braga no elenco

Omelete
5 min de leitura
09.05.2024, às 18H57.

O multiverso está em todos os lugares ao mesmo tempo. Está nos filmes e séries da Marvel, nos livros, nas HQs e até no Oscar, como vimos ano passado com Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. E agora está também no Apple TV+, com a adaptação de Matéria Escura (Dark Matter), que estreou esta semana. Porém, o assunto está longe de estar esgotado ou soar repetitivo. Isso porque a série, baseada no romance homônimo de ficção de 2016, escrito por Blake Crouch, não é sobre multiverso.

Em entrevista exclusiva ao Omelete, o autor diz não ver como diferencial do programa o fato de terem ali outras realidades e mundos, mas sim os personagens criados e, principalmente, os caminhos que não são seguidos. "As pessoas não ficam acordadas à noite pensando no Multiverso, elas ficam acordadas à noite pensando se se casaram com a pessoa certa, se deveriam ter tido filhos, e se tivessem aproveitado a chance que não aproveitaram há 20 anos. Não se trata de ficção científica, isso é apenas o disfarce", diz Crouch, que também é o showrunner da série.

O protagonista Joel Edgerton, que interpreta Jason, faz coro com o chefe ao declarar que vê a série como uma espécie de universo paralelo para o homem de meia-idade que tem uma família comum. Para ele, a série é sobre olhar para dentro. "[Olhamos] para questões do caminho não percorrido [...] ou o que aconteceria se você estivesse tirando algo de mim. Será que você teria a objetividade para perceber que minha vida é realmente muito boa e eu a quero de volta? [...] Trata-se de perguntas muito humanas que nos são feitas", relata o ator australiano, que também assina a produção-executiva.

Esses questionamentos resumem bem o primeiro episódio, que não à toa se chama "Você está feliz com a sua vida?". Conhecemos ali o entediado professor de física Jason, casado com Daniela Vargas (Jennifer Connelly), curadora de uma galeria de arte de Chicago. Tanto Jason quanto Daniela abriram mão de muitas coisas em suas vidas profissionais quando Daniela engravidou. Jason tinha uma pesquisa promissora em seu campo de atuação, enquanto Daniela tinha toda uma carreira dedicada às artes plásticas. Frustrados? Pelo contrário. Jason e Daniela parecem muito felizes com a família que formaram, apesar de muitas provações.

Suas vidas vão passar por mudanças quando, certa noite, um amigo e ex-colega da faculdade de Jason o chama para comemorar o sucesso de sua pesquisa, que ganhou um prestigiado prêmio da academia. Na volta para a sua casa, pensativo, Jason é sequestrado e drogado. Quando acorda, as coisas ao seu redor estão todas diferentes. Nada parece ser a realidade que ele conhecia.

Linha do tempo única ou múltiplas linhas?

Apesar de a ideia do multiverso estar em moda agora, nem sempre foi assim. Nos anos 1980, De Volta Para o Futuro mostrou que voltar no tempo poderia causar anomalias catastróficas em uma linha temporal única. Matéria Escura não adere a essa linha de ficção científica, e sim à noção - popular nesse gênero literário desde a metade do século XX - de que cada ação cria uma rede de realidades distintas. Jennifer Connelly questiona a contradição entre as duas teorias. "Acho que o programa mostra que as coisas que aconteceram no passado são experiências que definitivamente impactam os personagens e mudam a maneira como eles vivem suas vidas. Eles são todos a mesma versão do mesmo personagem, mas são versões diferentes do personagem por causa das diferentes escolhas que fizeram em suas vidas", conclui a atriz.

Edgerton confessa ser muito fã de De Volta para o Futuro e diz ser difícil entender as questões de como o passado pode afetar o futuro. "Acho o tipo de narrativa do Multiverso muito interessante porque a questão de que você poderia simplesmente visitar a si mesmo com um conjunto diferente de circunstâncias é fascinante. [...] E acho que é por isso que essas histórias ou qualquer ficção científica são feitas como se fossem um reflexo de uma amplificação da experiência humana, sabe?", reflete o ator.

Bom, adiantando um SPOILER que já está bastante claro desde a sinopse oficial, Jason acorda em uma realidade diferente da dele. E aí começam os questionamentos. Você já parou para pensar o que os outros vocês de realidades paralelas estariam fazendo neste momento?

"Eu nunca fiz isso! Acho que se eu gastasse meu tempo fazendo isso, estaria desperdiçando o tempo que tenho nesta vida", afirma Jennifer Connelly sem pensar muito. Já o produtor Matt Tolmach (da trilogia Homem-Aranha) tem um jeito diferente de encarar essas realidades: "Às vezes, ligo para uma versão de mim mesmo de outra realidade, e parece que ele não estava se saindo muito bem. Eu fazia isso para me sentir melhor", brinca.

Junto às piadas, surgem os questionamentos físicos e até éticos. Em uma cena do segundo episódio, Jason se encontra com a Daniela da nova realidade. Eles nunca se casaram ou tiveram filhos. Mas o amor, a paixão, o carinho continuam. No livro, os dois acabam passando a noite juntos. Na série, não. Encontrar e se conectar com o amor da sua vida em outra realidade pode ser considerado traição ou não? Connelly diz que sim, pois apesar de serem circunstâncias extraordinárias, ele não está com a mesma pessoa com quem se casou. Para Tolmach, é mais complicado do que isso. "Em alguns aspectos, acho que você deve sentir o conflito entre eles e o que ele está passando naquele momento", complementa.

Orgulhoso, Blake Crouch diz que esse é um dos exemplos de cena que existe no livro e na série e cujo novo desfecho ele gosta muito mais. "E essa é uma das coisas mais legais desse projeto. É como se eu estivesse refazendo o livro. Normalmente, tenho orgulho do livro, mas agora sou um escritor melhor, vivi mais, tenho uma equipe de pessoas super inteligentes ao meu redor e podemos pegar algo e torná-lo ainda melhor", reflete.

Mas quem dá a resposta mais apaixonada é a brasileira Alice Braga, que interpreta a psiquiatra Amanda: "Não (é traição)! É o amor! Independente dos multiversos, quando o amor existe, ele existe. Eu acredito muito em amor. Eu sou muito apaixonada por este sentimento e temos que alimentá-lo. Ali, é amor puro e verdadeiro."

Matéria Escura já tem os dois primeiros episódios disponíveis no AppleTV+ e terá novos capítulos semanais, até 26 de junho, quando o nono e último episódio chega ao streaming.

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