Das 3.200 cenas de Capitão América: Guerra Civil, 2.800 tem algum tipo de efeito visual. Um trabalho que é muitas vezes imperceptível - a mudança de uma placa aqui, a adição de um detalhe ali, uma remoção de cabos acolá -, mas também pode ser escancarado, como na cena do aeroporto. Mais de 90% da principal sequência de ação do filme foi feita em computação gráfica.
A cena desafiou a equipe em questões de espaço e escala - aeronaves de diferentes tamanhos, terminais e diferentes equipamentos do aeroporto precisavam interagir com os heróis. Ainda sem saber o quão grande seria o momento na parte do design e nem quais personagens lutariam entre si, a equipe de efeitos visuais começou a se preparar para a cena, que se passaria na Alemanha, mas foi rodada nos EUA, no estado da Geórgia. “Basicamente fotografamos muita coisa no aeroporto na Alemanha e fizemos uma réplica digital disso, que usamos em tudo o que foi filmado na Geórgia”, explica Dan DeLeeuw, supervisor de efeitos visuais do longa, em entrevista ao Omelete.
A abordagem faz parte do novo processo para efeitos visuais no cinema. No passado, a computação gráfica entrava apenas na parte de pós-produção, depois das filmagens. Hoje, com uma demanda maior e uma agenda menor para finalizar os efeitos, a equipe comandada por DeLeeuw, que recebeu uma indicação ao Oscar pelo trabalho em Soldado Invernal, participa do longa desde a pré-produção, sentando com outros departamentos nas primeiras etapas do roteiro para já decidir os detalhes de tudo que será criado longe das câmeras - “Quando as filmagens começam já temos cenas de efeitos visuais prontas pois começamos a trabalhar antes de qualquer gravação”.
Para facilitar, o trabalho também é dividido entre diversas empresas, cada uma com a sua especialidade. A Lola VFX, por exemplo, foi responsável por rejuvenescer Tony Star, finalizar o visual de Visão para close-ups e substituir o rosto dos dublês pelo dos atores. Já a Third Floor cuidou dos "previs”, espécie de arte conceitual em computação gráfica que ajuda a equipe a posicionar câmeras e outros elementos na hora de rodar uma cena complexa na frente de uma tela verde, e dos “postvis”, que ajudam os diretores a visualizar o fluxo da ação que acabaram de rodar. A Luma Pictures ficou responsável pelo braço de Bucky e pelo relógio armadura de Homem de Ferro, entre outros detalhes, enquanto a ILM cuidou da grande cena do aeroporto e das versões digitais de todos os heróis, principalmente Homem-Aranha, Homem-Formiga e Pantera Negra, em uma mistura do trabalho dos atores, dublês e animação.
DeLeeuw coordena as equipes para que tudo esteja em sintonia com a visão dos diretores. A falta de tempo prejudicou alguns momentos do longa (onde fica clara a artificialidade do processo), mas a maior parte das cenas manteve o realismo da ação estabelecido em Soldado Invernal: “Os irmãos Russo conversam bastante sobre o estilo de filmagem deles, mais pé no chão. Tentamos acompanhar com os efeitos visuais o mesmo estilo das filmagens normais, para manter uma consistência no estilo. Quando você está na parte dos efeitos, é preciso movimentar a câmera da mesma forma que seria caso isso fosse uma filmagem. Temos também muitas ferramentas que nos ajudam a criar a luz certa. Temos algumas câmeras que captam imagens de vários tipos, capturando como estava a luz naquela cena, e isso nos ajuda. Também fazemos muita captura de movimento para as coisas que animamos. Gravamos pequenos trechos de ação que são usados para colocar a animação nos personagens. Mesmo quando há animação existe uma básica física e real para aquela cena”.
Os "previs" são usados para planejar cenas complexas, como a sequência do aeroporto
O processo e o resultado dos efeitos visuais de Guerra Civil (o vídeo de bastidores abaixo exemplifica como algumas intervenções podem passar batido pelos olhos do espectador) mostra o quanto essa indústria evoluiu desde que a computação gráfica se tornou parte essencial do cinema, de produções de grande e baixo orçamento - Ex Machina, vendedor do Oscar de Melhor Efeitos Visuais deste ano, por exemplo, custou apenas US$ 15 milhões, enquanto o filme da Marvel saiu por US$ 250 milhões. Matrix, que revolucionou a sétima arte em 1999, tinha apenas 420 cenas com efeitos visuais. Em Guerra Civil foram 2.800 e essa nem é a maior marca do Marvel Studios, que chegou a 3.000 cenas com efeitos em Vingadores: Era de Ultron. Recorde que deve ser superado com Doutor Estranho, que chega aos cinemas em novembro com a promessa de levar o uso do 3D a um novo patamar.
Mais detalhes sobre os bastidores de Capitão América: Guerra Civil, além de uma prévia de Doutor Estranho, estarão na edição em Blu-ray e DVD, que chega às lojas em 14 de setembro - confira a lista de extras.