Biônicos (Netflix/Divulgação)

Créditos da imagem: Biônicos (Netflix/Divulgação)

Filmes

Crítica

Biônicos adapta a estética cyberpunk para drama familiar brasileiro

Filme da Netflix se filia à tradição da ficção científica como espelho do presente

Omelete
3 min de leitura
Pedrinho
03.06.2024, às 19H13.

Ao mesmo tempo que o temor da tecnologia na era da Inteligência Artificial estimula o scifi apocalíptico, a narrativa cyberpunk caminha junto para vislumbrar alguma normalidade na distopia. A brincadeira de imaginar um futuro em que humanos e máquinas sejam um só evolui conforme a tecnologia avança. Trazendo um olhar mais otimista para esse presente do futuro, Biônicos aposta na volta por cima de pessoas com deficiências.

Dirigido e co-roteirizado por Afonso Poyart, o filme retrata um Brasil transformado pela tecnologia de 2035. Nesse futuro, as próteses biônicas são as novas fronteiras da sociedade e pessoas com deficiência de mobilidade, que antes precisavam se adaptar à arquitetura hostil das grandes cidades, agora dominam todos os mercados — especialmente os esportes — graças às novas próteses biônicas. Sem explicar como o mundo chegou até lá, o filme traz essas pessoas um passo à frente na corrida evolutiva - afinal, independente dos anos corridos ou do pretexto, a competição pela sobrevivência no pós-capitalismo não promete mudar muito daqui até lá.

Nesse contexto, a história apresenta Maria (Jessica Córes), uma atleta de salto em distância que dedicou a vida a treinar e se ressente com a ascensão das próteses biônicas. Essa questão se intensifica pelo fato de Gabi (Gabz), sua irmã PCD, ser uma das maiores atletas do mundo e ganhar os holofotes e banners holográficos por toda a cidade. Impulsionada pela rivalidade, Maria se envolve sem saber em um perigoso esquema organizado pelo misterioso Heitor (Bruno Gagliasso).

Enxergar em Biônicos uma similaridade com o universo de Cyberpunk — que trouxe à vitrine dos games uma exposição recente para os conceitos desenvolvidos na literatura cyberpunk a partir dos anos 1980 — se limita às claras referências visuais. O foco da produção brasileira, que já deve ser claro a partir do próprio recorte socialmente carregado, é discutir classismo e os limites morais. Não é preciso drogas para se adaptar ao aparelho ou ao chip de controle; pessoas nascidas com problemas nos membros ou que tenham sido incapacitadas em acidentes comprovadamente legítimos podem ter acesso ao membro robótico — se puderem pagar. Essa limitação legal torna o produto escasso e de difícil acesso, dando origem à trama policial.

O conflito entre irmãs serve de núcleo dramático do filme, enquanto o viés econômico (um caminho que parece incontornável numa sociedade que sempre acaba voltando a lidar com a desigualdade como raiz de seus problemas) convida à subtrama do ódio contra os privilegiados. Biônicos aproveita essa deixa para se aproximar de narrativas sempre populares sobre “evolução” e exclusão, como X-Men ‘97, para citar um exemplo recente. O filme lida com o maniqueísmo para levar inteligentemente o espectador a tomar lados durante essa polarização.

A escalação de um elenco experiente mesmo entre os jovens - com nomes como Christian Malheiros, Klebber Toledo, Paulo Vilhena e a participação especial de Miguel Falabella - dá corpo ao roteiro e torna mais críveis situações pensadas já por sua carga de realidade. Imaginar a ficção científica como uma forma de debater o presente projetando-o num futuro hipotético é uma tradição antiga do gênero, e Biônicos se acomoda confortavelmente nessa tradição ao torná-la nossa também.

Nota do Crítico
Ótimo
Biônicos
Biônicos

Ano: 2024

País: Brasil

Duração: 110 min

Direção: Afonso Poyart

Roteiro: Afonso Poyart

Elenco: Christian Malheiros, Miguel Falabella, Paulo Vilhena, Klebber Toledo, Gabz, Jessica Córes, Bruno Gagliasso

Onde assistir:
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