Rosé em foto promocional do Rosie (Reprodução)

Créditos da imagem: Rosé em foto promocional do Rosie (Reprodução)

Música

Crítica

Em estreia solo, Rosé faz pop rock anos 2000 de competência irrepreensível

Rosie posiciona integrante do BLACKPINK como herdeira da tradição Lavigne/Clarkson

Omelete
3 min de leitura
10.12.2024, às 12H28.
Atualizada em 10.12.2024, ÀS 12H46

Já faz alguns anos que o pop anglófono está perseguindo a ideia de minar certa nostalgia millennial pela música do início dos anos 2000, era que produziu algumas das últimas divas radiofônicas do mainstream ocidental. Olivia Rodrigo mostrou que sabe encaixar sua sensibilidade melódica única por cima do template do pop punk, evocando essa nostalgia sem perder de vista o contemporâneo; e poucos artistas jovens capitalizaram mais em cima desse saudosismo do que Machine Gun Kelly, que baseou toda a sua identidade artística em cima dele. Willow, Billie Eilish e Camila Cabello também tentaram (com níveis de sucesso variáveis) colocar um pezinho nessa seara que parece tão convidativa, enquanto Avril Lavigne tratou de armar um comeback para se reafirmar como influência dominante nesse espaço sonoro.

Não surpreende, no entanto, que tenha sido necessário uma artista sul-coreana para mostrar como surfar essa onda do jeito mais interessante possível. Rosé, integrante do BLACKPINK, canta em inglês durante todos os 36 minutos do seu disco solo de estreia, intitulado Rosie, além de trabalhar ao lado de um time numeroso de compositores e produtores estadunidenses, canadenses, britânicos e australianos - mas ainda há algo de indefectivelmente k-pop na abordagem do disco, em específico na forma como ele identifica os elementos definidores da sonoridade que está tentando resgatar e se apoia neles com excelência melódica irrepreensível. Os sul-coreanos sabem, acima de tudo, que jogar o jogo pop só funciona se você não tem vergonha de estar jogando.

Daí as baladas ao piano que marcam uma parte importante do Rosie, a começar já pelo single “number one girl”, em que Rosé força os tons mais anasalados de seu vocal para nos lembrar de uma Ashley Tisdale ou uma Hilary Duff. A estridência delicada que a cantora adquire conforme a melodia vai decolando (no melhor estilo do co-compositor da faixa, Bruno Mars) é o primeiro de muitos flashbacks para outra era de estrelato pop. Na canção seguinte, “3am”, Rosé já afeta um vocal mais ofegante por cima de um violão acústico que é a cara da Avril do Let Go, complementado no refrão por uma batida programada e um gancho melódico viciante acompanhado por corais autotunados - a artificialidade faz parte desse resgate de gênero, afinal.

Daí em diante, a sensação é que o Rosie vira passeio. Seja por cima de sintetizadores sufocantes e românticos que remetem a Taylor Swift do 1989em “two years”; empilhando pré-refrão e refrão eufóricos com declarações teatrais (“senhoras e senhores, apresento a vocês: o ex) em “toxic till the end”; se aproximando do R&B sugestivo de Tove Lo em “drinks or coffee”, talvez a melhor do disco; ou desfilando a arrogância de um hit nato à la “Hello Kitty” com a viciante “APT.”, que se não te conquistar de primeira certamente vai te vencer pelo cansaço; parece que Rosé não consegue dar um passo em falso na sua evocação de uma perfeição radiofônica perdida na indústria - e, veja bem, nessa altura ainda há metade do disco pela frente.

Difícil imaginar, é verdade, que Rosé vai se acomodar ao nicho que ocupou no Rosie durante o seguimento de sua carreira solo. A cartilha do k-pop, afinal, dita que as ideias, os cabelos, os instrumentos, as entonações e as referências mudem a cada novo disco - mas nem dá para lamentar muito por isso, porque o disco faz um trabalho tão íntegro em habitar o território que escolhe para si que o ouvinte se pega pensando: tinha mesmo mais algo para fazer aqui? É um feito e tanto para um álbum pop, o de entender tão bem as suas escolhas de gênero que parece até esgotá-las. Por todas as virtudes que podem ter, as divas pop do Ocidente dificilmente conseguiriam fazer o mesmo.

Nota do Crítico
Ótimo
Rosie (2024)
Rosé
Rosie (2024)
Rosé

Ano: 2024

Produção: Bruno Mars, Ojivolta, Cirkut, Rob Bisel, Carter Lang, Dylan Wiggins, Evan Blair, Roget Chahayed, Griff Clawson, D'Mile, The Monsters & Strangerz, Michael Pollack, Blake Slatkin, Isaiah Tejada, Jacob Weinberg, Andrew Wells, Freddy Wexler, Greg Kurstin, Omer Fedi

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