O Strategy, 14º mini álbum da carreira do grupo de k-pop TWICE, abre com o gancho melódico rápido e esperto que define a canção título do disco, “Strategy”. “Ei menino, vou te pegar/ Vou te pegar bem, e posso apostar/ Ei menino, quando eu te pegar/ Você vai agradecer por ter me conhecido”, cantam as vozes conjuntas das integrantes, que durante os 3 minutos e pouco da canção terão suas próprias oportunidades de repetí-lo em entonações solo próprias, todas envolvidas nos sintetizadores sofisticados da produção de Earattack e Woo, e todas marcadas por um atrevimento controlado, combinado com a fofura que encapsula o estrelato feminino de k-pop aperfeiçoado pelo TWICE durante seus quase dez anos de carreira.
É um começo apropriadamente agradável e competente para um álbum que se mostra, bom… muito agradável e competente pelas seis faixas seguintes. “Kiss My Troubles Away”, por exemplo, transita no território difuso do revival disco com uma coleção admirável de recursos instrumentais, seja a batida metalizada dos versos ou o sintetizador sibilante que acompanha partes do refrão; e “Like It Like It” combina a percussão rápida que tem mandado nos girl groups do k-pop contemporâneo com uma marca mais grave de sintetizadores que é a cara do TWICE, que sempre foi um grupo mais tradicionalmente amigável para as pistas de dança do que os atos da estirpe do NewJeans.
O Strategy vive confortavelmente nesse espaço entre a imitação e a inovação, que nunca se arrisca demais para um dos dois lados - mas que também, portanto, nunca abre mão de certa competência da qual sabe ser capaz. Bem no miolo da tracklist, “Sweetest Obsession” e “Keeper” são as canções mais emblemáticas dessa escolha, principalmente nos revezes que ela traz: a segunda, escrita pela integrante Dahyun, ainda tem algo de etéreo nos versos e um baixo grooveado no refrão para salvá-la do esquecível, mas ambas apostam em um tom vocal e melódico muito familiar para ser qualquer coisa perto de excitante.
Que o TWICE sabe fazer música pop é, a essa altura, simplesmente indiscutível - é até por isso que, diante de um catálogo gloriosamente amplo, praticamente interminável, de ganchos irresistíveis e produções dançantes que movimentam uma legião de fãs, o que se ouve no Strategy pode parecer um gostinho amortecido do que elas são capazes de fazer. E é mesmo, mas também é difícil guardar muito ressentimento dele por isso: se você fosse tão bom em fazer algo que até o seu material mais “qualquer coisa” ainda se destaca na multidão, também não relaxaria de vez em quando?
E daí, é claro, temos “Magical”. Inspirada pelo timing do lançamento do disco, a penúltima faixa do Strategy (a última é uma repetição do single principal, mas sem a participação da rapper Megan Thee Stallion) se deleita em requintes de produção festivos - vide os sinos natalinos que acompanham a entrada de cada refrão - sem deixar de evocar algo oitentista com sua linha de sintetizadores de impacto alinhados com a percussão eletrônica, o pacote de cordas que fica depois do fim da letra se arrastando como faria em um lançamento de fim de ano de Lionel Richie ou Cyndi Lauper. E o timbre mais grave de Jihyo se esparramando pela ponte deliciosamente melódica da canção…
Enfim - quem sabe, sabe. Até quando não se esforça muito para saber.
Ano: 2024
Produção: Brandon Benjamin, Gabriel Benjamin, Earattack, Johan Fransson, Gingerbread, Rob Grimaldi, The Imports, Oliver Lundström, Ryan Marrone, Xansei
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