2024 foi um grande ano de renovação para a música. A ascensão de nomes como Sabrina Carpenter e Chappel Roan, junto à consolidação de Billie Eilish e Charli XCX como nomes de impacto indelével na sua geração, estabeleceu um cenário pop surpreendentemente vívido na cena da música pop ocidental.
Enquanto isso, Kendrick Lamar e Beyoncé continuaram provando sua dominação absoluta de qualquer gênero; o Linkin Park voltou transformado para reenergizar o bom e velho rock n' roll, mirando especialmente nos órfãos dos anos 2000; e o Brasil seguiu provando-se uma eclética primazia musical com Linikar, Pabllo Vittar e Fresno.
A seguir, a redação do Omelete escolheu, entre esses nomes, os nossos discos favoritos do ano.
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Essa lista faz parte do Omelhor, premiação do Omelete que reconhece os grandes acontecimentos da cultura pop no ano.
10. Radical Optimism - Dua Lipa
O tempo há de vingar o Radical Optimism, que sofreu com o envenenamento de expectativa que advém de seguir uma obra definidora de época como o Future Nostalgia (2020), álbum anterior de Dua Lipa. A verdade é que, aqui, a popstar britânica está em outra onda: deixando a disco de lado, ela mergulha no pop de aspirações místicas regido pelo produtor Kevin Parker (mais conhecido como líder do Tame Impala), mas o faz sem se esquecer das linhas de baixo balançadas que fizeram dela a estrela dance com músicas mais… bom, dançáveis da geração.
Tome sintetizadores rasgados, emergindo por baixo do tintilar de metais que se faz de percussão na maioria das canções do disco. A excelência dos refrões continua aqui, da espetacular retidão da linha melódica de “Houdini” à evocação romântica (com direito a coraizinhos recitando o gancho!) de “These Walls”, mas Dua parece mais afeita a mergulhar na lisergia de suas propostas eletrônicas, ao invés de se impor a elas. Não há exemplo melhor do que “Falling Forever”, que podia se passar por uma canção perdida de Kate Bush com seu ritmo galopante - se não fosse pela guitarrinha à la Nile Rodgers ao fundo, é claro. O Radical Optimism, enfim, é uma vibe. - Caio Coletti
9. Batidão Tropical, Vol. 2 - Pabllo Vittar
O sucesso absoluto de “São Amores” nas redes sociais pode ter afogado um pouco suas companheiras de tracklist no Batidão Tropical Vol. 2, mas o fato é que o segundo disco do projeto de Pabllo Vittar resgatando ritmos e canções do Norte e Nordeste dos anos 1990 e 2000 se mostrou uma coleção tão íntegra quanto a antecessora. Apostando alto em versões (de Roxette a Heart, de Banda Djavú a Laura Pausini), a drag queen e seu time de produtores passeiam confortavelmente por tecnobrega, forró, arrocha e melodias internacionalizadas em 14 faixas irrepreensíveis.
Entre as participações especiais, Vittar continua acertando ao deixar que as convidadas influenciem o seu som - a química com Gaby Amarantos segue incomparável em “Não Vou te Deixar”, que ganha o sabor inconfundível do Pará; enquanto Duda Beat traz uma sensibilidade pop mais grave para “Ai Que Calor”, talvez a melhor do disco. Na altura em que “Não Desligue o Telefone”, clássico da Djavú, ganha uma releitura tecno pelas mãos dos produtores Rodrigo Gorky, Maffalda e Zebu, já compramos integralmente mais essa viagem de Vittar pelos ritmos que a influenciaram - e que fizeram do pop brasileiro o que ele é hoje. - Caio Coletti
8. GNX - Kendrick Lamar
Kendrick Lamar teve um baita 2024. Entre a treta com Drake, que rendeu os já icônicos disses “meet the grahams” e “Not Like Us” e o anúncio de que K-Dot será o show do intervalo do próximo Super Bowl, o rapper de Compton deu aos seus fãs, tipicamente um grupo sempre sedento por mais, bastante riqueza. O ano, porém, culminou com o lançamento surpresa de GNX, que simultaneamente oferece algumas de suas músicas mais acessíveis, do ponto de vista rítmico, e algumas de suas letras mais afiadas. Ainda estou me recuperando do impacto de ouvir “reincarnated” e entender quão profunda a faixa consegue ser. - Guilherme Jacobs
7. Eu Nunca Fui Embora Pt. 2 - Fresno
A banda alternativa porto alegrense é uma das mais importantes do Brasil - não só no rock, mas em um contexto geral. Fresno se manteve firme e se renovando ao longo dos seus anos independentes no mercado, e em 2024 entregou Eu Nunca Fui Embora Pt. 2, um álbum que mostra toda a evolução musical, mas também celebra os grandes nomes do emo brasileiro.
Com faixas em parceria com NX Zero, Dead Fish e até Chitãozinho e Xororó, a Fresno mostrou que está sempre se renovando sem perder a sua marca inconfundível: músicas tristes que, ao mesmo tempo, você pode dançar com felicidade. - Angelo Sarmiento
6. From Zero - Linkin Park
Sete anos depois do falecimento de Chester Bennington, os fãs do Linkin Park finalmente tinham algo a comemorar: a banda estava de volta. Emily Armstrong assumiu os vocais deixados por Bennington, e seu trabalho de estreia com o grupo já deixa claro que a escolha foi certeira.
O nome From Zero já indica que o álbum traz bastante do que consagrou Mike Shinoda e Bennington no início dos anos 2000, com Meteora e Hybrid Theory, mas o disco também não deixa de trazer algo novo. Emily é o catalisador perfeito para essa reinvenção, mas Shinoda e todos os outros membros mostram nuances inéditas nesse novo começo. - Breno Deolindo
5. Hit Me Hard and Soft - Billie Eilish
A transformação de Billie Eilish de diva gen-Z experimental no primeiro álbum, When We All Fall Asleep, Where Do We Go?, em vocalista de neo-soul no segundo, Happier Than Ever, foi uma surpresa e tanto - diante disso, talvez o terceiro disco da garota-prodígio, intitulado Hit Me Hard and Soft, seja um passo mais gentil, um aprofundamento de uma sonoridade que já estava sugerida no antecessor. Nem por isso ele se priva da adição de algumas cores inesperadas ao repertório de uma artista que se revela cada vez mais destemida em suas transgressões de gênero.
O Hit Me Hard and Soft é muito mais oscilante, por exemplo, em seus níveis de energia. O início acústico de “Skinny” cai por cima do hip hop acelerado de “Lunch”, que se esparrama pelos cinco minutos de “Chihiro”, uma pérola dream-pop escondida em um álbum que pouco trafega nos sintetizadores. “Birds of a Feather” virou hit viral com sua abordagem abafada do folk-pop, enquanto o disco encontra sua encarnação mais pura em “L’Amour de Ma Vie”, que começa como cancioneiro francês só para desaguar em um trance pesadão. De Carla Bruni a Robyn em uma música só - uma caixinha de surpresas, essa Billie. - Caio Coletti
4. Short N’ Sweet - Sabrina Carpenter
Quem diria que, na era do pop confessional sincero (mas obcecado por imagem) de Olivia Rodrigo, Billie Eilish e Charli XCX, veríamos a ascensão de uma popstar tão deliciosamente cínica e atrevida quanto Sabrina Carpenter. O Short N’ Sweet consagrou essa subida nada meteórica (Sabrina está por aí há anos, viu?!) com uma coleção afiada e eloquente de canções pop autodepreciativas, sexualmente explícitas e fluentes na linguagem solta do meme.
Seja subvertendo o hit de verão doce com sua “Espresso”, a baladinha acústica feminina com “Lie to Girls”, ou o R&B arrogante em “Good Graces” - e nem me deixe começar a falar sobre a deliciosa “Juno”, que culmina num grito de “estou com tanto tesão, p*rra!”e um solo de guitarra -, Sabrina faz pop com um sorrisinho irônico e uma vontade desenfreada de transgredir. É um espírito audacioso que estava fazendo falta no gênero. - Caio Coletti
3. Cowboy Carter - Beyoncé
Após um primeiro ato incrível com Renaissance, Beyoncé voltou às suas origens texanas para lançar um dos melhores álbuns de sua carreira. Cowboy Carter aposta em um country que flerta com a ideia de se mesclar a diversos gêneros, mas que também possui uma assinatura muito singular. Mais do que isso, no entanto, o álbum é uma resposta de Beyoncé à rejeição que o público fã de música country estadunidense teve por ela durante a era Lemonade, quando se inspirou no gênero para a faixa “Daddy Lessons”. Mesmo com um dos melhores álbuns de 2024 e ficando em 1º lugar nas paradas do gênero, a cantora não foi indicada a nenhuma categoria da principal premiação de country music dos Estados Unidos, o CMA Awards. Por outro lado, Beyoncé foi lembrada em mais de dez categorias do Grammy. - Pedro Henrique Ribeiro
2. brat - Charli XCX
É difícil falar de 2024 sem mencionar brat, o sexto álbum de estúdio da cantora britânica Charli XCX. Com uma estética marcada pelo verde fluorescente e sonoridade que mistura hyperpop com inspirações das raves britânicas dos anos 2000, o projeto começou de forma discreta, com uma capa minimalista e sem grandes expectativas da própria artista. No entanto, ao longo do ano, brat se consolidou como um dos maiores fenômenos culturais recentes, redefinindo tendências e marcando a história da música pop contemporânea.
O sucesso da versão original de brat não foi suficiente para Charli XCX, no entanto - algum tempo depois, a popstar apresentou Brat and It's Completely Different but Also Still Brat. A versão remix do álbum trouxe faixas reimaginadas com novas camadas sonoras e participações especiais de peso. Entre os destaques, Ariana Grande adicionou sua assinatura vocal à contagiante "Sympathy Is a Knife", enquanto Lorde brilhou em "Girl, So Confusing", considerada por muitos a melhor faixa dessa edição. A releitura consolidou ainda mais o impacto de brat no cenário pop, reafirmando a capacidade de Charli de reinventar sua própria obra. - Pedro Ayres
1. Caju - Liniker
Caju é uma das frutas mais curiosas da flora brasileira. Sua carne doce e macia, resulta em saboroso e refrescante suco, enquanto sua dura castanha fica perfeita torrada e com sal. Essa variedade de sabores no mesmo fruto se assemelha muito a sensação de ouvir o álbum de Liniker. Enquanto usa letras doces para trazer uma nova perspectiva sobre o que é o amor e se sentir amada, a cantora ainda aposta em ritmos quentes que dão um toque especialmente brasileiro à sua criação.
O álbum ganha ainda mais potência quando chega a versão ao vivo. Com corpo, voz e banda, a cantora torna sua performance ainda mais potente e faz da sua troca com o público quase faixa-bônus dentro da equilibrada setlist. Com ótimas letras, melodias e produção, Caju é sem dúvidas o melhor álbum do ano, sem se limitar a gênero musical ou qualquer outra fronteira. - Pedro Henrique Ribeiro
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