Cena da segunda temporada de And Just Like That

Créditos da imagem: Divulgação

Séries e TV

Crítica

And Just Like That… corrige problemas em 2º ano, mas se esquece da história

Série ainda luta para dar narrativas significativas a suas personagens

Omelete
4 min de leitura
29.08.2023, às 18H06.
Atualizada em 29.08.2023, ÀS 18H17

Lá em 2021, a primeira temporada de And Just Like That…, o revival de Sex and the City, veio com um punhado de mudanças na manga, para o bem e para o mal. A nova série, afinal, tinha uma proposta bem diferente da original e sofreu um pouco para encontrar seu tom, mais dramático, e lidar com a adição de um elenco mais diverso. O recém-encerrado segundo ano faz um esforço notável para aparar essas arestas – mas acaba deixando a história pelo caminho.

Há muitas narrativas nos novos episódios, mas nem sempre elas trazem conflitos interessantes. Esse é o maior pecado da temporada, que no acúmulo de situações pouco memoráveis parece apostar tudo na brevíssima participação de Samantha (Kim Cattrall) no finale – divertida, claro, mas que pouco acrescenta à história para além da nostalgia (e da vontade de ver um derivado com sua vida em Londres).

Na ânsia por querer dar mais atenção a todas as suas personagens, e não só ao trio principal de Carrie (Sarah Jessica Parker), Charlotte (Kristin Davis) e Miranda (Cynthia Nixon), o roteiro de Michael Patrick King torna seu foco difuso: Che (Sara Ramirez) lida com um revés profissional, Nya (Karen Pittman) tenta fazer as pazes com a solteirice após se separar, Lisa (Nicole Ari Parker) vê sua carreira finalmente decolar e Seema (Sarita Choudhury) permanece às voltas com a sua vida amorosa (ou a falta dela).

Abrir o caleidoscópio de personagens surge como um desafio instigante para a temporada, mas pouco acontece para mover as tramas adiante. Che, por exemplo, passa vários episódios sem ter muita função na trama; o mesmo ocorre com Seema, o que é uma verdadeira pena, já que a personagem é quem incorpora com mais propriedade o espírito de Sex and the City. Espirituosa e poderosa, Seema é uma espécie de sucessora espiritual de Samantha e pode oferecer muito mais entretenimento do que… uma briga com seu cabeleireiro.

Tratar da banalidade do cotidiano não é o problema, a questão é ter algo espirituoso a dizer sobre isso – algo que Sex and the City fazia muito bem, e com muita graça. O quarteto original sempre trazia uma perspectiva mordaz e divertida sobre suas vivências como mulheres de 30 e poucos anos em Nova York, mas And Just Like That… não encontra para si nenhuma especificidade que sirva de novo zeitgeist. São histórias que parecem estar pela metade, que acontecem às pressas, ou fora de cena. [Atenção: a partir daqui o texto tem alguns spoilers da temporada].

Às vezes, no entanto, a série mostra que sabe, sim, conduzir seus enredos, como comprova a boa trama de Charlotte voltando ao mercado de trabalho e se reencontrando pessoal e profissionalmente agora que Rock e Lily já são adolescentes. A história de Miranda pós-Che, com a advogada trabalhando para uma organização em que realmente acredita, também é envolvente e deixa uma ponta interessante para a terceira temporada.

Com Carrie, em especial, o roteiro anda na navalha. Há ternura em seu reencontro com Aidan (John Corbett), e é reconfortante vê-los tendo um relacionamento mais maduro, após as falhas de ambos no passado. Mas King testa um pouco demais a suspensão de descrença do público, seja com a recusa de Aidan em pisar no apartamento de Carrie, vinte anos depois, seja com o desfecho preguiçoso para a história do casal. Sim, nós sabemos que encerrar a narrativa conjugal de Carrie agora talvez trouxesse limitações à série, mas forçar o casal a uma pausa de cinco anos soa questionável – tão questionável como a decisão da protagonista de vender seu apartamento para uma semi-desconhecida enquanto Miranda mora de favor em um quartinho.

Claro que, na ficção, nem tudo precisa fazer sentido, e a lógica interna de And Just Like That… depende muito de que a gente embarque no escapismo. É ele que nos leva a sonhar com seus apartamentos milionários, roupas fabulosas e a vida social animadíssima de suas personagens; parte considerável do prazer de ver a série vem dessa fantasia e ela permite uma boa dose de decisões questionáveis. Mas mesmo as decisões questionáveis precisam parecer que são tomadas com convicção e propósito.

Nota do Crítico
Regular
And Just Like That...
Em andamento (2021- )
And Just Like That...
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Criado por: Michael Patrick King

Duração: 1 temporada

Onde assistir:
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