DOM é relato íntimo e paternal de uma tragédia familiar anunciada

Créditos da imagem: Prime Video/Divulgação

Séries e TV

Crítica

DOM é relato íntimo e paternal de uma tragédia familiar anunciada

Temporada final reafirma a vocação que a série demonstrou para a narrativa emocional de matriz hollywoodiana

Omelete
3 min de leitura
Pedrinho
29.05.2024, às 19H30.

Quando o “bandido gato” do Rio de Janeiro tomou conta dos telejornais por seus roubos elaborados e sua cara de filho bem criado, na hora essa narrativa se prontificou digna de uma narrativa hollywoodiana. Inteligente, impetuoso, carismático e de beleza excepcionalmente padrão, Domviveu como um verdadeiro personagem de filme de ação, então parece um destino manifesto que essa história agora termine de ser contada depois de três temporadas de Dom com Gabriel Leone despontando para o estrelato.

Na trama, vemos como Pedro Dom (Leone), um jovem da classe média carioca e filho de policial, caiu no pantanoso mundo das drogas e como seu vício o levou a se tornar o assaltante mais famoso do Brasil no início dos anos 2000. Para explorar o lado frágil do bandido gato, a série dirigida pelo saudoso Breno Silveira se divide em contar sua escalada no crime e explorar a implosão de sua família. Trazendo para o centro Victor Dantas (Flávio Tolezani), o pai do protagonista, a produção força a empatia por Dom, traçando uma linha tênue entre vilania e heroísmo.

Ao longo das três temporadas, a série promove uma imersão pelo núcleo familiar de Dom através do olhar paternal de Victor. A sensação de culpa e fracasso de um homem da lei que tem seu filho cooptado pelo crime organizado coloca o personagem de Tolezani muitas vezes no papel de grande vítima da história. Essa aproximação, que almeja assentar Dom moralmente em meio a um gênero policial que sempre festeja na televisão os anti-heróis trágicos, oferece ao espectador um ângulo novo para uma história da qual já conhece o fim.

Tanto pai quanto filho têm suas histórias contadas como grandes arcos hollywoodianos. Dom, um criminoso impecável, que sempre acerta em seus roubos e consegue escapar das situações mais impensáveis; e Victor, um herói da justiça que combateu o tráfico internacional de drogas vivendo as missões mais escandalosas que se possa imaginar. Apesar do bom roteiro e da direção, essas histórias só ganham o devido grau de credibilidade pelas excelentes atuações de Gabriel Leone e Flávio Tolezani. Graças a eles, a amarração desse Prenda-me Se For Capaz fluminense convence para além das convenções importadas do gênero.

No terceiro ano, a produção muda seu tom para preparar a despedida de seu protagonista, cujas condições da morte são publicamente conhecidas. Única temporada gravada sem Breno Silveira, que morreu em 2022, o último ano ainda leva a marca do criador, homenageado ao final de cada episódio. Essa consistência definida por Silveira é um dos trunfos de Dom, que evolui seus personagens sem perder o ritmo.

Quando vivo, Silveira realizou longas-metragens que acima de tudo pontuavam a capacidade do audiovisual brasileiro de se impor como uma indústria autônoma, ainda que sua linguagem derivasse da familiaridade que estabelecemos com o cinema americano. Dom reforça essa capacidade, que se estende à possibilidade de revelar novos talentos para o mundo. Hoje Gabriel Leone se prepara para personificar Ayrton Senna num momento em que os Estados Unidos se apaixonam pela Fórmula 1. Dom é um atestado de que se conectar com as pessoas envolve também uma boa dose de senso de oportunidade.

Nota do Crítico
Ótimo
Dom
Encerrada (2021-2024)
Dom
Encerrada (2021-2024)

Criado por: Breno Silveira

Duração: 3 temporadas

Onde assistir:
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