Quando engrena, Rainha das Lágrimas se esmera no melodrama

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Quando engrena, Rainha das Lágrimas se esmera no melodrama

K-drama da Netflix se apoia em personagens bem trabalhados para driblar ritmo

Omelete
3 min de leitura
14.05.2024, às 16H30.
Atualizada em 14.05.2024, ÀS 17H27

Na investida da Netflix para trazer k-dramas, Rainha das Lágrimas já é uma série com potencial. Os elementos são os clássicos do gênero: um casal composto por uma pessoa muito rica e outra de origem humilde, o arco de enemies-to-lovers; o drama familiar misturado ao corporativo. O desafio é navegar nessa caixa da teledramaturgia com um gosto de novidade.

O casal protagonista inicia sua história já casado, embora à beira do divórcio. A mulher é a CEO fria e calculista, enquanto seu amado é sensível e gentil. A produção estrelada por Kim Ji-won e Kim Soo-hyun traça a jornada dos protagonistas numa tentativa de reapaixonamento, em meio a obstáculos que incluem uma doença terminal, a intromissão das famílias, acidentes, crimes e conspirações ao melhor estilo Saltburn. Não faltam dificuldades e reviravoltas, se o que o espectador busca é sair da mesmice.

O grande trunfo da série, porém, são os seus personagens. Ao longo de 16 episódios que chegam a ter uma hora e meia, cria-se um apego ou pelo menos uma familiaridade com o carismático elenco. Se comparado a outros k-dramas, Rainha das Lágrimas tem um número considerável de coadjuvantes com função relevante e alguma autonomia; trajetórias são preenchidas sem pontas soltas. Vale destacar a atuação de Park Sung-hoon como o vilão Eun-seong, que impressiona pela consciência corporal e traz humanidade ao personagem sem forçar uma redenção.

Para além do drama, é nos momentos mais descontraídos e divertidos da série que a dupla Kim-Kim se encontra no humor, na medida certa para que o casal protagonista equilibre um dramalhão digno de novela como Rainha das Lágrimas. Se os primeiros quatro episódios, mais introdutórios, demoram a envolver o público — e a premissa sozinha não sustenta os episódios longuíssimos — a partir do quinto capítulo a experiência passa a ser mais recompensadora. A história começa de verdade — e engrena rápido.

A série poderia facilmente cair numa situação dicotômica com os protagonistas, colocando a CEO numa posição de “errada”, a que precisa mudar, a culpada por tudo dar errado em seu casamento; e o marido como a vítima dos parentes. O roteiro sabe evitar esse tipo de maniqueísmo ao mesmo tempo em que não se furta a impor ao casal uma série de novos problemas, episódio a episódio. Nesse ponto, cabe ao público sentir até que ponto vai sua suspensão de descrença, diante de reviravoltas que evidentemente se enfileiram por seu valor de choque ou surpresa.

Muito disso serve unicamente a um propósito pontual; a tal doença terminal é esquecida por alguns episódios, quando não serve à narrativa, e as próprias leis parecem ser dobradas para colocar tal personagem na cadeia na hora certa. A obsessão com o conceito de destino também testa o espectador mais cético, mas no mais um k-drama como Rainha das Lágrimas não é lugar para ceticismo — o que seria das narrativas de teledramaturgia se seus autores não exagerassem a realidade com as dobras que só o melodrama permite.

Vale aqui um parêntese para um elemento que ajuda muito na construção das emoções na série: a trilha sonora. Várias canções originais são introduzidas durante os episódios e duas delas se destacam: “The Reasons of My Smiles, do BSS, e “Love You With All My Heart, do Crush. Além de darem o tom perfeito para as cenas do casal, essas duas vão direto para a playlist.

Nota do Crítico
Bom
Rainha das Lágrimas
Encerrada (2024- )
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