X-Men ‘97 é a melhor novela de super-heróis que se poderia esperar

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Crítica

X-Men ‘97 é a melhor novela de super-heróis que se poderia esperar

Mescla de sagas e dramas familiares funciona de forma quase perfeita na volta da série animada

Omelete
4 min de leitura
15.05.2024, às 19H18.
Atualizada em 15.05.2024, ÀS 19H32

É difícil imaginar que após a aquisição da Fox pela Disney, o melhor produto da Marvel com os X-Men seria uma continuação da animação dos anos 1990. Mergulhado em suas fórmulas, o Marvel Studios parecia preso ao maquinário de recomeços, conectividade e histórias de origem que trouxeram a tal “fadiga de super-heróis” ao cinema e streaming. Por isso, resgatar uma série pela nostalgia — e atender a um serviço ao fã que também contribui para a fadiga — parecia uma escolha insatisfatória para receber os mutantes na Disney. Só parecia.

Como esperado, X-Men ‘97 continua a trama desenvolvida entre 1992 e 1996 e usa esse pretexto para manter o visual de heróis e vilões, assim como a própria técnica de animação. Ao optar por isso, ‘97 tinha o risco de soar datado para um mundo onde as animações influenciadas pela linguagem do anime primam pela agilidade e pela expressividade. A animação evita essa armadilha dando ao visual uma simples camada de modernidade, quase um pincel de alta definição, que diferencia esta das temporadas anteriores. A sintonia fina entre visual e o texto absurdamente perspicaz de Beau De Mayo, cabeça principal por trás da série, dá o tom da volta e da atualização.

O texto de De Mayo foca em três pilares essenciais para o sucesso da adaptação. O primeiro é a manutenção dos dramas centrais da novela no núcleo de X-Men, a começar pela família de Jean e Scott, o Ciclope. Nessa subtrama, que inspira os principais embates afetivos da série, o espectador vê o desdobramento de tramas paralelas, como a do clone de Jean, o filho Nathan e a liderança questionada do pai novato. O triângulo amoroso Scott, Jean e Wolverine fica de lado para um envolvimento mais potente entre Vampira e Gambit (astro de um dos melhores episódios da série), além da presença espirituosa de coadjuvantes como Fera, Mancha Solar, Tempestade, Morfo e Noturno.

O segundo pilar é talvez o mais importante deles, e o mais avesso ao público barulhento da Internet: a força do discurso político. Consciente de que a alegoria política está na essência das histórias dos mutantes da Marvel, De Mayo ignora qualquer possibilidade de desviar destes assuntos e aborda a supremacia branca nos discursos de Bastion, o racismo declarado e violento de Sr. Sinistro, e concentra os dilemas ideológicos no conflito central de toda a série: Xavier vs Magneto. O segundo, vilão que aqui se torna herói no primeiro momento, é o centro das atenções e vagueia por diversos espectros políticos ao longo da história, servindo como um guia interessante do debate sobre tolerância que a série propõe. Xavier, assim como Wolverine na série noventista, é quase um coadjuvante de luxo que atua como representantes do espectador e catalisador de todas as tramas paralelas.

Por fim, o terceiro pilar de X-Men ‘97 é a amálgama que faz de arcos clássicos dos quadrinhos, muitos deles datados dos anos de Chris Claremont à frente da HQ nos anos 1970 e 1980, misturando, por exemplo, a antiga obsessão de Sinistro pelo casal Summers à conspiração dos novos Sentinelas , e incorporando referências ao hall de heróis da Marvel ao mesmo tempo. Muitos desses rostos são velhos conhecidos da série de 1992 — de Bolivar Trask às insinuações de Apocalipse - e X-Men ‘97 os revisita com urgência enquanto engrossa o elenco e as reviravoltas dessas tramas - um contingente de personagens e uma gama de aparições rápidas que parece inimaginável reproduzir no cinema ou numa série em live-action.

O trunfo de DeMayo não é só jogar essas referências, e sim criá-las dentro de um contexto que potencializa o pilar dramático e o pilar político da série. No fundo, como toda boa novela, X-Men ‘97 sabe como conectar o drama piegas de um casal em crise com o futuro da humanidade e ao mesmo tempo discutir sobre genética e intolerância religiosa em um só episódio. Pode soar como um conglomerado de histórias superficiais, mas no fundo a mistura funciona; de tal combinação resulta um grupo de heróis e vilões que representam problemas e debates humanos e atemporais, e que vestidos em uniformes coloridos com seus superpoderes ficam mais interessantes de acompanhar.

Nota do Crítico
Excelente!
X-Men '97
Em andamento (2024- )
X-Men '97
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Criado por: Beau De Mayo

Duração: 1 temporada

Onde assistir:
Oferecido por

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