Cena de Together (Reprodução)

Créditos da imagem: Cena de Together (Reprodução)

Filmes

Crítica

Together tenta surfar onda do body horror, mas só funciona mesmo na comédia

Dave Franco e Alison Brie, é claro, têm química - mas não carregam um filme sozinhos

Omelete
3 min de leitura
29.01.2025, às 08H23.

Naquele que é, de longe, o momento mais memorável de Together, o casal principal formado por Millie (Alison Brie) e Tim (Dave Franco) luta contra um processo doloroso e potencialmente sobrenatural no corredor da casa de campo para o qual se mudaram há pouco tempo. Acreditando que o relaxante muscular prescrito pelo seu médico pode ajudá-los a vencer essa luta, Tim pede para Millie pegar o frasco de comprimidos na gaveta, o que ela faz com algum esforço antes de exclamar: “Valium!. Sem perder um segundo, o personagem de Dave Franco rebate, evocando a admoestação de seu médico quando lhe receitou os comprimidos: Eles chamam de Diazepam agora.

O humor fácil desse diálogo arrancou gargalhadas do público do Festival de Sundance 2025 - em parte pela ousadia de incluir a tirada em um momento tão intenso da trama de terror do longa, em parte porque o timing de Franco diante da bola levantada pela companheira de cena (e esposa) Brie é mesmo impecável. Durante as ágeis 1h36 do filme dirigido e escrito por Michael Shanks, esses momentos de quebra de tensão se repetem algumas vezes, sempre guiados pela relação fácil que os dois protagonistas estabelecem na tela, se aproveitando da comunicação instintiva que só uma relação de mais de uma década pode trazer. Não há como replicar uma química que é real, no fim das contas.

O prazer dessa boa combinação cênica, no entanto, é passageiro - principalmente porque ela está isolada como virtude mais proeminente de Together. Estreante em longas-metragens, Shanks encontrou uma forma de falar sobre um tema que lhe parece caro enquanto embarca na tendência do horror corporal (estamos vivendo em tempos pós-Julia Ducournau e Coralie Fargeat, afinal). Nominalmente: Together é um thriller sobrenatural sobre a codependência que se posiciona como inevitável na trajetória da maior parte dos relacionamentos românticos duradouros, uma brincadeira sobre aquela dúvida eterna entre abraçar essa codependência e as transformações que ela traz ou lutar pela recuperação de um “eu” que não existe mais na forma como existia antes.

São ideias interessantes de se explorar no gênero, mas logo fica claro que a abordagem de Shanks vai escorregar na direção do artificial, e não em um bom sentido. O CGI que define a “maldição” enfrentada pelos personagens, por exemplo, evoca não a antiguidade maligna que pretende evocar (difícil negar essa ambição quando um personagem cita Platão para justificar suas maluquices!), mas um trabalho de inteligência artificial que está, talvez, tentando emular essa mesma vibe. Na fotografia de Germain McMicking (Mortal Kombat) e na montagem de Sean Lahiff (I Am Mother), enquanto isso, o filme recorre a um horror envernizado e cheio de estratégias de choque baratas - ser “filme de susto” não é problema, mas realizar seus sustos com tão pouco estilo com certeza é.

A construção da mitologia também é frágil, é claro, e este é um defeito fácil de se apontar. Mas, no fim das contas, se explicar de menos é o menor dos problemas de Together - ele não precisaria se preocupar com isso se fosse melhor em assustar, incomodar ou provocar com suas imagens e sua mensagem. Do jeito como está, no entanto, o longa precisa se contentar com a popularidade fácil do subgênero de horror que explora (muito rasamente), e com as risadas ainda mais fáceis das interações entre seu casal principal, que inclusive fazem um bom argumento a favor da codependência com a qual o filme tem uma relação tão ambivalente: ambos funcionam muito melhor juntos do que separados.

Nota do Crítico
Regular
Together
Together

Ano: 2025

País: EUA/ Austrália

Duração: 96 min

Direção: Michael Shanks

Roteiro: Michael Shanks

Elenco: Alison Brie, Damon Herriman, Dave Franco

Onde assistir:
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